Que termine depressa o ano
podre como fruta esquecida
na fruteira rodeada de mosquitos
apagado para sempre da história
Também o tempo tem direito
à lei que nos protege da memória
repetindo-se no crânio pesado
das dores intimamente sentidas
sirva aí de cama aos ossos
dos dias caninamente roídos
em mercados e feiras
precisamos de silêncio absoluto
Desliguem as gargantas com pregões
e os motores da alienação universal
a paz gloriosa dos dissidentes
Com ela eduquemos nossos filhos
para o sucesso da inutilidade
e os quadros de mérito
e as menções honrosas
Abaixo o burocrata cabeça de grelha
e os comités de interruptores
interrompidos a horas certas
Precisamos de unhas partidas
e de olhos onde existam buracos negros
para portas que possam ser arrombadas
nem de porteiros a espreitar pelas janelas
nem de balcões voltados para dentro
nem de gente que cumpra horários
como se os dias tivessem fim
para onde quer que vão apressadamente
Levem-no convosco por inteiro
edificarei uma morada
para o amor e para a liberdade
Mais não quero nem preciso
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