quinta-feira, 20 de abril de 2023

DICOTOMIAS

 


A dicotomia ocidente/oriente é das coisas mais pategas que inventaram. Jorge Luis Borges explicou-o magistralmente referindo-se a "As Mil e Uma Noites", não vale a pena insistir no assunto. A americanização do mundo é, no entanto, uma realidade. E eu acho que deve ser combatida. Não quero viver numa sociedade como a americana, racista, violenta, assimétrica, socialmente desigual. Ora, isto está longe de querer dizer que pretendo viver numa sociedade russificada ou achinesada. Essas são igualmente sociedades desequilibradas, sem liberdade de expressão e persecutórias. Há mais mundo e as possibilidades não se esgotam nestes exemplos. Também estou longe de me sentir europeu, naquele sentido que dizem ser o do europeísmo e que eu tendo a reduzir ao reinado da hipocrisia. É o de uma UE que convive bem com a perseguição aos homossexuais na Hungria (estranhamente ninguém fala disto) ou a manipulação da justiça na Polónia, a Europa favorável à globalização mas que ergue muros por todo o lado para não deixar circular pessoas, só as pessoas que são mercadorias, e convive bem com campos de concentração onde enfiam migrantes, com um Mediterrâneo transformado em cemitério, etc, etc, etc. Portanto, quer a ocidente, quer a oriente, interessam-me as pessoas, o direito das pessoas a uma vida digna e políticas que possibilitem isso mesmo prevendo a liberdade que cada indivíduo deve ter de dizer: não vou por aí.

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