Ouvir o outro não se faz sem silêncio e reflexão. Em
Portugal, as vozes soam sempre demasiadamente alto e de forma confusa,
lançam-se muitos foguetes, bate-se com muita violência nos bombos, ovaciona-se
freneticamente, de forma muitas vezes despropositada, mas a estes actos não
corresponde, o mais das vezes, uma escuta cuidada e atenta. Além da vozearia e
dos estrondos, talvez fosse bom interrogarmo-nos sobre o que fica de tudo isto.
Talvez esteja aqui a explicação para a expressão popular «quando um burro fala
o outro baixa as orelhas». A palavra «diálogo», em Portugal, parece
enquadrar-se neste jogo de baixar as orelhas uns aos outros. Mas a expressão
contém uma contradição que talvez justifique e dê especificidade ao problema
português: não se pode querer falar e convidar, ao mesmo tempo, o ouvinte a
encolher as orelhas. Sabendo que não irão ter ouvidos par aos ouvir, os
oradores cuidam pouco daquilo que dizem e os ouvintes limitam-se simplesmente a
abanar a cabeça. Na verdade, parece-me que, tenham ou não algo para dizer, é
indiferente aos oradores se vão ou não ser ouvidos.
Carlos Alberto Augusto, in “Sons e Silêncios da Paisagem
Sonora Portuguesa”, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Maio de 2014, pp.
16-17.
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