Quanto ao brilho e à textura, posso dizer que sempre me impressionou o vestido azul no «Retrato da Princesa de Broglie» de Ingres, pela sua extrema autenticidade. Fico fascinada pelo próprio tecido e não pela tinta ou pela tela, embora saiba que não poderia envergá-lo, como se o quadro tivesse um letreiro a dizer «ceci n'est pas une robe» à semelhança do que fez Magritte. Mas, ainda assim, digo que a arte não vive no limite da mentira. Mesmo quando é assumidamente vocacionada para o representativo escapa ao registo em que poderia ser considerada verdadeira ou falsa. A Arte vive no limite da ilusão, da dupla ilusão da tradução sem traição.
Rosa Alice Branco, in O que falta ao mundo para ser quadro, Limiar, Janeiro de 1993, p. 68.
Sem comentários:
Enviar um comentário