O egoísmo é inerente à espécie
humana. Não estou sequer a pensar em “O Gene Egoísta”, de Richard Dawkins, que folheei
desinteressadamente nos meus tempos de estudante. Penso no dia-a-dia. Viver em
sociedade exige um adestramento desse egoísmo que é motor de arranque dos indivíduos.
Passa por cada um interiorizar que o seu próprio bem-estar é indissociável do outro.
Ser solidário é, antes de mais, trabalhar no sentido da coexistência. Ninguém
logra estar bem rodeado de gente que está mal, este mal intoxica, é tóxico, não
encontra filtro mais poderoso do que a solidariedade, a prática do bem em prol
do outro que é sempre aquele entre os quais também eu me encontro. Nada disto
se esgota na caridade. A caridade, ao contrário da solidariedade, prolonga o mal-estar,
parte sempre de um princípio de desigualdade que é o de quem dá esmola ou deixa
gorjeta. A solidariedade não é esmola que se dê para que aquele que está mal
fique menos mal, não é a expiação do gene egoísta, a solidariedade fundamenta-se
na insuportável consciência da desigualdade. Combate-a por adestramento do
egoísmo, não pela sua dissimulação.
Sem comentários:
Enviar um comentário