segunda-feira, 3 de abril de 2023

SOLIDARIEDADE E CARIDADE

 

O egoísmo é inerente à espécie humana. Não estou sequer a pensar em “O Gene Egoísta”, de Richard Dawkins, que folheei desinteressadamente nos meus tempos de estudante. Penso no dia-a-dia. Viver em sociedade exige um adestramento desse egoísmo que é motor de arranque dos indivíduos. Passa por cada um interiorizar que o seu próprio bem-estar é indissociável do outro. Ser solidário é, antes de mais, trabalhar no sentido da coexistência. Ninguém logra estar bem rodeado de gente que está mal, este mal intoxica, é tóxico, não encontra filtro mais poderoso do que a solidariedade, a prática do bem em prol do outro que é sempre aquele entre os quais também eu me encontro. Nada disto se esgota na caridade. A caridade, ao contrário da solidariedade, prolonga o mal-estar, parte sempre de um princípio de desigualdade que é o de quem dá esmola ou deixa gorjeta. A solidariedade não é esmola que se dê para que aquele que está mal fique menos mal, não é a expiação do gene egoísta, a solidariedade fundamenta-se na insuportável consciência da desigualdade. Combate-a por adestramento do egoísmo, não pela sua dissimulação.

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