terça-feira, 27 de junho de 2023

A BEAUTIFUL FRIENDSHIP (1961)

 


Sou um poeta  exigente, burilo os versos até deles não sobrar senão espaçamento. Os travessões são a filigrana do meu estro, os apóstrofos a economia do labor. Gasto horas, dias, semanas, meses inteiros a desenhar palavras. Não sou desses que urinam estrofes, não, eu trabalho, o meu labor está na precisão, na minúcia, no olho microscópico com que retoco cada letra de uma palavra, cada palavra de um verso, cada verso de uma estrofe, cada estrofe do poema. Tenho calos nas mãos de tanta fadiga. Poema meu não sai revestido de serapilheira nem travestido de aniagem, não é qualquer um que me costura o design com que me exponho na passadeira vermelha dos malditos. Por menos que Dior ou Chanel, nenhum estilista se me achegue. Não é por peneiras, é por consideração para com o que escrevo: obras-primas, direitas, descendentes de tios que são lã de primeira qualidade. Não me venham com The Game of Love, de Nat “King” Cole e George Shearing. A minha dança é outra. Tem royalties na voz, efeitos polifónicos. Só é pena os erros ortográficos, não acertar com os hífenes, sair-me chupa-mos em vez de chupamos.

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