Sei o que sei, o tempo vai passando e não
perdoa. Se tudo cura, também tudo estraga. Não venham com conversas.
Mantenha-se a cabeça limpa de preconceitos e temos a vida ganha. A porra que
tem sido, nestes últimos, dar com gente nova toda cheia de lixo na cabeça.
Obrigo-me a pensar nas razões deste recrudescimento da escolástica e das suas
razões medievais. Como a paciência é pouca, incorro frequentemente no risco de
resvalar para igual intolerância. Sou intolerante à intolerância, mas ainda
mais à estupidez alimentada pela escassez de referências. Só o desconhecimento
do passado pode justificar tanto preconceito, o desconhecimento da luta que tem
sido, falo do terreno artístico, combater estereótipos e preconceitos com
raízes milenares, nomeadamente esses que fazem do corpo razão para todos os
males. É muito desta época desviar o olhar do essencial, focando-o no
acessório, fingir que não se vê a miséria, ou não vê-la mesmo, porque os olhos
estão enterrados no lodo do entretenimento, divertidos com futilidades. Quanto
vale a imagem de centenas de náufragos a afogarem-se no mediterrâneo ao lado de
um pontapé no Big Brother? Que valor tem um sem-abrigo ao lado do caniche
fofinho em reels no Instagram? É desta desfocagem, suponho, que surde a
comunidade sensível que não suporta a palavra gordo, preferindo-a à palavra
enorme. Valha-me o santo Chet Baker e o seu romantismo e o trompete esvoaçante
na boca desdentada pela heroína, que para desdentados do crânio, fiéis do
tadinhismo e do queridismo e do bonitismo, já não tenho pachorra.
quinta-feira, 22 de junho de 2023
ISN’T IT ROMANTIC? (1953)
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1 comentário:
Por falar em lixo na cabeça:
"Parte integrante da totalidade do problema da sobrevivência humana, (...) é o problema da poluição em geral e não apenas da poluição do nosso ar e água mas também dá informação armazenada nos nossos cérebros."
R. Buckminster Fuller, Manual De Instruções Para A Nave Espacial Terra.
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