quinta-feira, 22 de junho de 2023

ISN’T IT ROMANTIC? (1953)


 

Sei o que sei, o tempo vai passando e não perdoa. Se tudo cura, também tudo estraga. Não venham com conversas. Mantenha-se a cabeça limpa de preconceitos e temos a vida ganha. A porra que tem sido, nestes últimos, dar com gente nova toda cheia de lixo na cabeça. Obrigo-me a pensar nas razões deste recrudescimento da escolástica e das suas razões medievais. Como a paciência é pouca, incorro frequentemente no risco de resvalar para igual intolerância. Sou intolerante à intolerância, mas ainda mais à estupidez alimentada pela escassez de referências. Só o desconhecimento do passado pode justificar tanto preconceito, o desconhecimento da luta que tem sido, falo do terreno artístico, combater estereótipos e preconceitos com raízes milenares, nomeadamente esses que fazem do corpo razão para todos os males. É muito desta época desviar o olhar do essencial, focando-o no acessório, fingir que não se vê a miséria, ou não vê-la mesmo, porque os olhos estão enterrados no lodo do entretenimento, divertidos com futilidades. Quanto vale a imagem de centenas de náufragos a afogarem-se no mediterrâneo ao lado de um pontapé no Big Brother? Que valor tem um sem-abrigo ao lado do caniche fofinho em reels no Instagram? É desta desfocagem, suponho, que surde a comunidade sensível que não suporta a palavra gordo, preferindo-a à palavra enorme. Valha-me o santo Chet Baker e o seu romantismo e o trompete esvoaçante na boca desdentada pela heroína, que para desdentados do crânio, fiéis do tadinhismo e do queridismo e do bonitismo, já não tenho pachorra.

1 comentário:

Ivo disse...

Por falar em lixo na cabeça:
"Parte integrante da totalidade do problema da sobrevivência humana, (...) é o problema da poluição em geral e não apenas da poluição do nosso ar e água mas também dá informação armazenada nos nossos cérebros."
R. Buckminster Fuller, Manual De Instruções Para A Nave Espacial Terra.