A adaptação de Luiz José à sociedade portuguesa da década de final do século, a de Mário Soares e a de Jorge Sampaio, parecia tão satisfatória - tinha finalmente conta bancária, escrevia nos melhores jornais, era entrevistado em grande destaque, deixara o álcool, aparecia na televisão, queriam editar-lhe as obras completas - que ficou a ideia de que o seu caso era já outro bem distinto daquele que fora na década de 60 e até na seguinte, com a lenda do maldito associada à da miséria humana que arrastava nas ruas de Lisboa, às vezes com os filhos pela mão. Foi por isso que a Universidade de Évora o candidatou à primeira edição do prémio Vergílio Ferreira, em 1996. Todas as razões justificavam a candidatura. Fora editor de Vergílio Ferreira, visitara-o em Évora, mantivera com ele uma amizade que embora não isenta de implicância se mostraria acima de acintes. Tratava-se ainda de um ficcionista que Vergílio Ferreira elogiara e estimulara, nunca lhe negando talento e engenho, e de um ensaísta poderoso, com um caminho só seu. Nunca vira premiado o seu longo trajecto de escritor e tudo indicava que chegara ao enfim a hora do seu reconhecimento.
O júri reuniu. O prémio era entregue no dia 1 de Março de 1997, um ano depois do falecimento do patrono. Os membros do júri - dois representantes da Universidade de Évora, um professor de Coimbra, Carlos Reis, outro de Lisboa, Maria Alzira Seixo, um crítico literário, António Guerreiro - acharam que dar o prémio a Luiz José ficava mal. Um chegou a dizer que era um desperdício - ele ia gastar o dinheiro em copos. O prémio foi para Maria Velho da Costa, eterna repetente destas matérias. A escola portuguesa, a quem já Guerra Junqueiro despira as ilusões, continuava a sua rota de presunção e saber escolástico e embalsamado. Era sempre cedo para Luiz José se ver consagrado e academizado. Morreu pois sem receber um único prémio literário e sem o reconhecimento da comunidade de letras. Basta ler o seu diário - público desde 1973 - para se perceber a novidade que ele estava a legar à literatura do tempo e primus inter pares - fossem eles Torga ou Saramago. O único desquite era a adesão, nem sempre pelas razões merecidas, que recebia dos jovens e dos jornais.
O júri reuniu. O prémio era entregue no dia 1 de Março de 1997, um ano depois do falecimento do patrono. Os membros do júri - dois representantes da Universidade de Évora, um professor de Coimbra, Carlos Reis, outro de Lisboa, Maria Alzira Seixo, um crítico literário, António Guerreiro - acharam que dar o prémio a Luiz José ficava mal. Um chegou a dizer que era um desperdício - ele ia gastar o dinheiro em copos. O prémio foi para Maria Velho da Costa, eterna repetente destas matérias. A escola portuguesa, a quem já Guerra Junqueiro despira as ilusões, continuava a sua rota de presunção e saber escolástico e embalsamado. Era sempre cedo para Luiz José se ver consagrado e academizado. Morreu pois sem receber um único prémio literário e sem o reconhecimento da comunidade de letras. Basta ler o seu diário - público desde 1973 - para se perceber a novidade que ele estava a legar à literatura do tempo e primus inter pares - fossem eles Torga ou Saramago. O único desquite era a adesão, nem sempre pelas razões merecidas, que recebia dos jovens e dos jornais.
António Cândido Franco, in O Firmamento é Negro e Não Azul - A Vida de Luiz Pacheco, Quetzal Editores, Janeiro de 2023, pp. 443-444.
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