(O problema da habitação)
Vivo
numa casa com quatro pneus furados
disse
como se eu fosse padre e o ouvisse
em confissão
Aqui
mesmo
no bairro
latão amarantino sob plátano velho
que dá sombra
como certamente davam essas árvores de fruto
desabrochadas da terra
quando homem e mulher andavam nus
Mas
a estes que são costela um do outro
não os liga a queda
nem o pecado
nem a tentação
Liga-os
a miséria
que por amizade travestem
com cobertores partilhados
enquanto tentam dormir
Um
no lugar do condutor
outro
no lugar do pendura
ali parados a noite inteira a sonhar
sabe-se lá com quê
Falo-lhes
do rio que se dividia em quatro
e do quarto arcano do Tarot
da sua posição superior:
ide e ensinai a todas as nações
o engenheiro que fui
arquitecto de casas com pneus furados
pai de todas as guerras santas
juiz de inquisições e intifadas
Falo-lhes
de Adriano
morto à martelada sobre uma bigorna
e dos que foram queimados na fogueira
pendurados pelos pés
e daquelas a quem cortaram as mamas
e daqueles a quem arrancaram as vísceras
e de outros
mortos à pedrada
a golpes de maça e de osso de boi
Falo-lhes
de Aura de Óstia
morta por afogamento com uma mó no pescoço
e das cadeiras forradas de cravos
das frechadas e lapidações
daqueles a quem arrancaram os dentes
enterrando-os em vida
esventrados
decapitados
lançados às feras e aos vermes
atirados para dentro de fornos
Falo-lhes
da amputação das mãos
e eles olham para os dedos encardidos
e dizem:
conhecemos as unhas do privilégio
Senhor
purificadas em água benta
no parque do perdão
De nada nos vale o fruto do conhecimento
regado por esse rio dividido em quatro
e ao quarto arcano do Tarot
não leve a mal Senhor
preferíamos tão-somente um quarto
recôndito que fosse
com colchão desempestado
e bacia onde vazar
o nojo do mundo
Uma
torneira que pingasse
quatro paredes em contramão
uma casa sem caixa de velocidades
em alternativa
um caixão
disse
como se eu fosse padre e o ouvisse
em confissão
no bairro
latão amarantino sob plátano velho
que dá sombra
como certamente davam essas árvores de fruto
desabrochadas da terra
quando homem e mulher andavam nus
não os liga a queda
nem o pecado
nem a tentação
que por amizade travestem
com cobertores partilhados
enquanto tentam dormir
no lugar do condutor
outro
no lugar do pendura
ali parados a noite inteira a sonhar
sabe-se lá com quê
e do quarto arcano do Tarot
da sua posição superior:
ide e ensinai a todas as nações
o engenheiro que fui
arquitecto de casas com pneus furados
pai de todas as guerras santas
juiz de inquisições e intifadas
morto à martelada sobre uma bigorna
e dos que foram queimados na fogueira
pendurados pelos pés
e daquelas a quem cortaram as mamas
e daqueles a quem arrancaram as vísceras
e de outros
mortos à pedrada
a golpes de maça e de osso de boi
morta por afogamento com uma mó no pescoço
e das cadeiras forradas de cravos
das frechadas e lapidações
daqueles a quem arrancaram os dentes
enterrando-os em vida
esventrados
decapitados
lançados às feras e aos vermes
atirados para dentro de fornos
e eles olham para os dedos encardidos
e dizem:
conhecemos as unhas do privilégio
Senhor
purificadas em água benta
no parque do perdão
De nada nos vale o fruto do conhecimento
regado por esse rio dividido em quatro
e ao quarto arcano do Tarot
não leve a mal Senhor
preferíamos tão-somente um quarto
recôndito que fosse
com colchão desempestado
e bacia onde vazar
o nojo do mundo
quatro paredes em contramão
uma casa sem caixa de velocidades
em alternativa
um caixão
Sem comentários:
Enviar um comentário