Era uma das tarefas que mais me repugnava. Sempre que algum
escritor conhecido morria ou a propósito de centenários e afins, lá vinham as campanhas
determinadas pelo marketing com cartaz respectivo e etiquetas de desconto. Lembro-me
de uma que deu polémica, aquando da morte de Herberto. A família não gostou e
mandou recolher o cartaz oportunista. Sempre que colava uma etiqueta de
desconto na capa de um daqueles livros sentia-me parte de uma comunidade
necrófaga, abutres, hienas, chacais a disputarem um cadáver. O comércio no
capitalismo desenfreado é assim mesmo, qualquer valor ético e moral submerge
nos valores das quotas de mercado. Repugna-me cada vez mais esse oportunismo,
que, diga-se de passagem, não é exclusivo de grandes grupos como aquele para o
qual trabalhei.
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