Creonte manda emparedar Antígona depois desta lhe
desobedecer. Hémon, filho de Creonte, noivo de Antígona, intercede por ela mas
o pai não lhe dá ouvidos. Só Tirésias, o profeta de Tebas, consegue convencer
Creonte a corrigir o erro. Quando tenta voltar atrás, é demasiado tarde.
Antígona suicidou-se, escapando ao sofrimento eterno. Hémon ainda se lança
sobre o pai, mas este escapa-lhe. Acaba também o rapaz a matar-se por amor a
Antígona. E Eurídice, mulher de Creonte, mãe de Hémon, sem aguentar a perda do
filho, terá o mesmo destino.
"Antígona", a tragédia de Sófocles, terá sido
representada pela primeira vez no ano de 441 a.C.. Na "Poética",
Aristóteles refere-se-lhe para falar do uso artístico que o poeta faz dos dados
da tradição. Diz que de todas as situações tragicamente possíveis, a pior é a
do sabedor que se apresta a agir e não age: "é repugnante e não trágico,
porque sem catástrofe: com efeito, raramente uma personagem procede como Hémon
para com Creonte, na "Antígona"". Aristóteles critica o abuso do
espectacular, a tónica nas emoções em detrimento da intriga. Os mitos mais
trágicos são os mais imorais, ou seja, aqueles em que irmãos matam irmãos (Etéocles
versus Polínices), filhos matam pais (Édipo versus Laio), mães matam filhos
(Medeia), filhos matam mães (Orestes versus Clitemnestra). Hémon ficou-se pela
intenção.
Creonte terá de conviver com três suicídios: o de
Antígona, o de Hémon, o de Eurídice. A sua tragédia é o arrependimento tardio,
cometeu um erro e não só não foi a tempo de o corrigir como terá de acarretar
as consequências em dose tripla. Haverá sempre quem diga "pobre
Creonte", outros chamar-lhe-ão "estúpido", não sendo desdenhável
que apareça alguém a dizer "bem feita, agora aguenta-te". Nunca é
tarde para corrigir um erro, diz a psicologia hodierna. Naquele tempo não era
bem assim. Eu continuo na minha: os erros evitam-se. É pensar antes de agir.
Por exemplo, se Antígona não se tivesse suicidado tudo seria diferente.
Acabaria a tragédia em casamento, como nas telenovelas.
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