«A poesia teve quase sempre pouco eco no bolso do
português que compra livros e dos editores ou directores de publicações, que
prefeririam hoje sabe-se lá o quê a pagar devidamente os direitos de autor a um
tipo que faz versos. Se pusermos de lado o período da última guerra em que
alguns poetas modernos conseguiram superar a indigência crónica à porta de
tipografias e casas editoras, se exceptuarmos os ultra-românticos (esses
sentaram ao piano meio funcionalismo público e a quase totalidade das donzelas
que viriam a ser nossas avós, dedilhando, entoando "O Noivado do
Sepulcro" e "A Lua de Londres"), bem como o estro revolucionário
que ajudou a implantar a República (Gomes Leal, Junqueiro), quando é que a
poesia escrita saiu dos pequenos círculos, da corte, das academiazinhas
setencistas, das tertúlias, das revistas literárias, que têm nos momentos de
glória uma, duas centenas de assinantes? (A propósito de Junqueiro: conheci
pescadores no litoral da Gândara, velhos de setenta anos muito curtidos pelo
mar, que diziam de cor passos do "Finis Patriae" com lágrimas nos
olhos.)
À parte estas excepções, a nossa poesia foi sempre mais
ou menos uma pedinchona incómoda: de letra de forma, de favores às damas, de
empregos, de mercês, de tenças, de dinheio, de galinhas a todos os senhores de
Cascais deste mundo. Camões, Tolentino, Bocage, Gomes Leal, etc. Um edecétera
quilométrico. Camões, antes da tença de D. Sebastião, ganhou tanto com os
versos que ao querer obsequiar alguém servia ele próprio iguarias de endeixas,
como no "Banquete da Índia" oferecido aos fidalgos seus amigos.»
Carlos de Oliveira, in "Almanaque Literário",
incluído em "O Aprendiz de Feiticeiro" (1971), Círculo de Leitores,
2001, pp. 62-63.
2 comentários:
É uma opinião pessoal; penso que a literatura portuguesa e o resto das artes em geral estão e estiveram sempre ao mesmo nível. Não são mais os poetas que a Vasconcelos, Luís Peixoto ou a Mariza. Não podem dar mais porque são aquilo que são. São criados em nichos, onde são promovidos e esses nichos estão minados de burgueses e da mesma mentalidade. Como disse o Cesariny e não me posso esquecer " o tecto em Portugal é muito baixo"...nunca foi alto.
Abraço
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