Aqui têm mais um belíssimo exemplo do mundo faz de conta em que as pessoas estão cada vez mais imersas, tanto que quando espreitam à superfície não acreditam no que vêem. Uma nova "República" de Platão deixaria todos a acreditar apenas nas sombras, a verdade é uma chatice, não interessa, o que interessa é o evento, a excitação, o vazio sublimado, a feira de vaidades, e por mais ludibriadas que sejam as pessoas sentir-se-ão muito aliviadas por terem participado no engodo. Estar fora é que seria penoso. Um tipo mascarou-se de DJ Marshmello e animou o público, disse o que tinha a dizer, deu entrevistas, gozou com o pagode, exactamente às horas em que o DJ Marshmello, o próprio, actuava em Las Vegas. Que interessa comer gato por lebre? É para comer. E entre original e cópia não há diferença alguma para quem já não está minimamente interessado na verdade, papa simulacros e falsificações e imposturas e trapaças dando gorjeta no final e agradendo o belíssimo serviço. Diz a Renascença: "O grupo de ativistas Yes Men fez-se passar pelo DJ Marshmello e um representante da Adidas, para apresentar uma criptomoeda e criticar as más condições de trabalho na marca de roupa e calçado desportivo. Os impostores deram entrevistas, falaram num painel e o DJ até lançou uma música." Magnífico. A Adidas esteve representada a dizer mal da Adidas. E o público aplaudiu, pois está-se nas tintas para o que aplaude. Se o vizinho do lado agita os braços e bate palmas, deve ser isso o que esperam de mim. Logo, faço como o outro para não ser excluído. O que importa é participar, o espírito crítico fica na gaveta, o circo não precisa dele para nada e, assim como assim, saímos daqui e vamos tirar selfies com iluminações de Natal. O culto da superficialidade é um poço sem fundo para o qual multidões se atiram sem sequer se darem conta que é num poço que estão a mergulhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário