terça-feira, 21 de novembro de 2023

TRÊS POEMAS DE OLALLA CASTRO

 


HOMENS DE BEM
 
Aqueles que disseram mata
ergueram os copos no ar
com o júbilo de todos os banquetes.
Celebraram o fim da contenda,
os árduos frutos do saque
mulheres, gado, vinho, tudo por igual abundava
Eram homens de bem:
antes da comida e depois do sangue,
rezavam.
Em festa, na oração, na batalha,
a sua língua era a mesma gritaria.
 
*
 
HISTÓRIA
 
A língua brilha como nácar
ao falar de batalhas, vitórias, conquistas,
domínios, impérios, colónias,
submissões, execuções, purgas.
Brilha, aponta o inimigo
com um sorriso rasgado
e faz soar a flauta dos nomes,
a sua doce música, já limpa de sangue.
 
                               A história é um dedo muito longo
                               que nunca se volta para si mesmo.

 
*
 
MATRIOSCA
 
Toda a morte contém
as mortes anteriores,
forma um único corpo
que cresce a  cada vez.
Matriosca de olhos abertos,
traz um pranto velho no ventre
e com o de agora se mistura,
se mistura, se mistura.
Os quartos de hospital confundem-se
como se confundem as conversas,
as mãos, os conta-gotas;
todas as vezes que já disseste adeus.

 
 
Olalla Castro, in “Todas las veces que el mundo se acabo”, II Premio Internacional de Poesía Ciudad de Estepona, Pre-Textos, Setembro de 2022. Versões de HMBF.

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