José María Gómez Valero (Sevilla,
1976) publicou vários livros de poesia, pelos quais tem sido frequentemente premiado.
Vem participando, desde 1996, em diversos projectos cénicos que relacionam a
música, a poesia e a representação. Além disso, é um dos responsáveis pela editora
independente Libros de La Herida (2005), onde publicou este ano, na colecção Vivezas,
este “La Herida Abierta”, co-escrito com David Eloy Rodríguez (Cáceres, 1976).
Valero estreou-se em 1997 com um livro intitulado “Miénteme”, um ano após a
estreia de Rodríguez com “Chrauf” (1996). David Eloy Rodríguez é também autor
de livros de contos e de pequenas histórias. Em “La Herida Abierta” coligiram
uma selecção de letras flamencas, poemas concebidos a pensar na possibilidade
de serem cantados. No prólogo de José María Velázquez-Gaztelu, poeta natural de
Cádiz nascido em 1942, refere-se que «uma letra flamenca segue por caminhos expressivos
e inclusivamente formais similares -
pela brevidade e essencialidade – ao do haiku japonês». Trata-se, na verdade,
de uma aproximação à poesia popular que encontraria paralelo em Portugal no
cante alentejano, poemas breves, dísticos, quadras, que geralmente rimam e têm
na voz anónima do povo e na tradição a sua raiz mais profunda. Aqui ficam
alguns exemplos, respigados em cada uma das secções que divide a colheita sem
que se faça referência autoral a cada um dos poemas:
De “Palabra Flamenca”:
X
Vê como arde
esta ferida aberta
em pleno ar.
Vê como grita
esta ferida aberta
em bocas infinitas.
Vê como sangra
esta ferida aberta
para lá das minhas entranhas.
De “La Herida Abierta”:
XXXII
Eu não obedeço às regras
ditadas pelos canalhas.
Não jogo o mesmo jogo
de quem baralha as cartas.
De “¿Qué Sabrá El Reló de Na?”:
LXXIII
Sei todos os nomes
dos barcos na baía,
e em qualquer um deles
contigo me perderia,
a caminho do horizonte
a tua sorte à minha uniria.
De “La Vida Entera Aprendiendo”:
CXIX
Falamos e falamos.
E o que um ao outro dizemos
logo o olvidamos.
De “Cantan Ellas”:
CLII
Deixa-te de ordens e de poder,
digo-te eu sem maldade,
que entre ti e mim está a faltar
um pouco de igualdade.
esta ferida aberta
em pleno ar.
esta ferida aberta
em bocas infinitas.
esta ferida aberta
para lá das minhas entranhas.
ditadas pelos canalhas.
Não jogo o mesmo jogo
de quem baralha as cartas.
dos barcos na baía,
e em qualquer um deles
contigo me perderia,
a caminho do horizonte
a tua sorte à minha uniria.
E o que um ao outro dizemos
logo o olvidamos.
digo-te eu sem maldade,
que entre ti e mim está a faltar
um pouco de igualdade.
mil vezes, sempre novas
graças ao canto.
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