OS
IMPERADORES DE INVERNO
Os
imperadores de inverno
instalam-se na planície, profanando
o estado de sítio.
Acumulam fortunas
cultivando a fera que repousa na selva,
por outros é agora queimada a terra morta.
Candeias
de azeite ligam
os gritos soltos que protegem o arrojo
do desconhecido — esse poema da exploração —.
Recompor
o mal, para afastá-lo.
Os
imperadores de inverno
estão envoltos em névoa. A planície, pedra fria
que não permite que lhe toquem nas costas.
Sem
ritual, o seu aspecto é o menos,
a fera
que protege a casa, a que restaura a ordem,
a que beija os pés aos imperadores
de inverno,
não
tocará trombetas no abandono, nem na dispersão
será berço e vento,
esqueleto e guarida,
voz e morte.
E
os imperadores de inverno
serão fronteira móvel, mito em viagem
e multidão
sedenta, que virá a esvaziar as fontes,
a encher os sulcos e a limpar detritos.
Os
imperadores de inverno
desconhecem os verdadeiros limites da fronteira.
*
O
ANIMAL SELVAGEM
A
epopeia não existe. Não existe
como era — como modo
de enobrecer a história —.
Onde se refugiaram os heróis
da nossa infância?
E
eu, respondo:
— Migram de estado em estado. Na verdade,
escondem-se debaixo do tapete.
É
fácil
pensar onde estivemos, ainda que
tudo seja parte de um acordo. Algo
acordado nos nossos pesadelos.
E
digo-me:
— Não existe limpeza no futuro, porque
não a há na história que o alimenta.
No
fundo, continuamos a ser
uma parte daquele animal selvagem.
Luci Romero (Cabra, Espanha, 1980)
publicou os livros “Autovía del Este” e “El Diluvio”. Em 2010, obteve o prémio
La Voz + Joven de La Casa Encendida. É livreira, uma das proprietárias da
livraria Bartleby. Estes dois poemas foram incluídos no livro “Western”, colecção
Krámpack da Editorial Delirio, Salamanca, 2016, uma pequena maravilha escrita
em Março de 2015 no Desierto de Tabernas, Almería. Quase todos os poemas têm
epígrafes que remetem para diálogos em westerns históricos, ponto de partida de
versos sobre o espectáculo do mundo e as suas encruzilhadas.
«Deves
aprender a viver como se não existisses.»
Aconteceu
no Oeste, de Sergio Leone
instalam-se na planície, profanando
o estado de sítio.
Acumulam fortunas
cultivando a fera que repousa na selva,
por outros é agora queimada a terra morta.
os gritos soltos que protegem o arrojo
do desconhecido — esse poema da exploração —.
estão envoltos em névoa. A planície, pedra fria
que não permite que lhe toquem nas costas.
a fera
que protege a casa, a que restaura a ordem,
a que beija os pés aos imperadores
de inverno,
será berço e vento,
esqueleto e guarida,
voz e morte.
serão fronteira móvel, mito em viagem
e multidão
sedenta, que virá a esvaziar as fontes,
a encher os sulcos e a limpar detritos.
desconhecem os verdadeiros limites da fronteira.
como era — como modo
de enobrecer a história —.
Onde se refugiaram os heróis
da nossa infância?
— Migram de estado em estado. Na verdade,
escondem-se debaixo do tapete.
pensar onde estivemos, ainda que
tudo seja parte de um acordo. Algo
acordado nos nossos pesadelos.
— Não existe limpeza no futuro, porque
não a há na história que o alimenta.
uma parte daquele animal selvagem.
Sem comentários:
Enviar um comentário