quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

MORTE ANUNCIADA

 
Não vale a pena declarar a morte do jornalismo, é como apontar o tédio num cemitério. A melhor decisão que tomei este ano foi deixar de ver a SIC, uma das melhores que tomei na vida foi deixar de comprar jornais. Assistir aos serviços informativos das televisões é como enfiar a cabeça na caixa de correio postal para comer a publicidade que lá deixam diariamente. Uma pessoa sente até um certo embaraço com o que vê, repórteres a encher chouriços à porta de hospitais ou à beira de incêndios (escolham a estação), um desfile de comentadores que ora nos espantam pela ignorância, ora nos irritam pelo facciosismo (todos com colunas na jornalada e muito activos nas redes sociais), notícias que o não são (das ondas de calor no Verão ao frio no inverno é só escolher) ou são servidas como encomendas a pataco. E depois as amizades, os amigos de seus amigos, a lisboetice de um país cãotural preso e domesticado nos canis de Lisboa e Porto. É uma miséria. Chegará o dia, e está para breve, em que toda a informação se subsumirá nas redes sociais, dependente do ruído provocado pelo soundbite produzido na fábrica de cretinos que comanda o mundo. Os jornalistas serão preteridos por influencers e a culpa é só deles, dos jornalistas, que se estiveram nas tintas para a dignidade de uma profissão que não se compadece com favores e exige mais do que fazer o serviço ao investidor e meter cunha pelo amigo.