A polarização é a principal estratégia do populismo de
extrema-direita. A tónica do seu discurso está sempre na separação entre bons e
maus, entre virtude e vício, como se não fôssemos capazes do melhor e do pior.
É a lógica do fascismo, o princípio maniqueísta que gera muros entre pessoas e
fomenta ódios. Todo o discurso sobre imigração assenta numa divisão entre nós e
eles, nós os portugueses, eles os pretos, os ciganos, os monhés, os refugiados,
nós os bons, eles o diabo. Isto é especialmente caricato num país de emigrantes
espalhados pelo mundo, emigrantes que foram e vão para África, Brasil, EUA,
Canadá, etc, em busca da riqueza que não encontram cá. As Nações Unidas falam
em 2.631.559 portugueses emigrados, ou seja, 26% da população residente no país.
Mas o nós e eles é mais do que isto, é o nós cristãos e o eles hereges, é o nós
família tradicional e o eles depravados, é o nós direita e o eles comunistas.
Toda a esquerda é comunista para a extrema-direita populista. Há também um nós
e eles escatológico a tomar conta dessa gente para quem menino é azul e menina
é cor-de-rosa. Nada de misturas. A extrema-direita populista não quer mulheres
e homens a cagar na mesma sanita, nada de casas de banho mistas. Homem que é
homem mija de pé, mulher que é mulher urina de cócoras. Esta é uma das grandes
preocupações simbólicas da extrema-direita populista, princípio de toda uma
mentalidade segregacionista que começa no intestino e termina no esgoto. Para a
extrema-direita populista não há zonas cinzentas, é tudo a preto e branco, não
há crepúsculo, é tudo noite e dia. Não aceitam, não percebem, não querem
perceber que qualquer um de nós, sem excepção, resulta do cruzamento entre
pólos que se misturam, somos num mesmo corpo sangue de inúmeras cores, um
caleidoscópio genético que, no fundo, até é bem simples: chama-se humanidade.
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