"Onoda" (2021), de Arthur Harari (Paris, 1981).
A inacreditável história de Hiroo Onoda, soldado japonês colocado, em 1944, na
ilha Lubang nas Filipinas. E por lá ficou 30 anos, sem acreditar no fim da
guerra. Parece mentira, mas foi verdade. Uma co-produção entre França, Itália,
Alemanha, Bélgica, Japão, Camboja. Valeu a pena o investimento. Se há vida que
merece ser contada, é a deste soldado japonês em que uns poderão ver heroísmo e
outros irão ver alienação. O que pensar de Hiroo Onoda, oficial do exército
japonês que não acreditou no fim da guerra e foi defendendo, durante trinta
anos, a sua posição numa ilha das Filipinas? Lunático? Herói? Lealdade extrema
ao exército imperial japonês? Antes de ficar sozinho, arrastou consigo, durante
décadas, um grupo de homens que lhe eram fiéis. Tinham como missão dificultar
os ataques americanos na ilha, custasse o que custasse, levasse o tempo que
levasse. A guerra terminou em 1945, mas não para Onoda e os seus homens. Acabou
sozinho numa ilha de onde saiu apenas em 1974. Podemos dizer, talvez, que a
ilha era ele próprio, um homem tomado pelo dever militar, pelas obrigações,
privado de qualquer livre arbítrio que lhe garantisse algum discernimento.
Sozinho nas montanhas, depois dos seus camaradas se terem rendido ou terem
morrido em confrontos com os locais, Onoda chegou a ser dado como morto no
Japão. E, de certa maneira, estava mesmo morto. O que sobrava dele nele?
Estancado no passado, cativo na ilha do dever profissional, enclausurado na
selva, surge-nos não como o derradeiro samurai ou o último dos moicanos, mas
como alguém que não soube proteger-se desse dever de obediência que aliena os
homens usurpando-lhes a mais elementar garantia de humanidade: a liberdade.
1 comentário:
Esse caso é instigante! Sabe-se lá o que se passava na cabeça desse homem? Deve ter sofrido algum distúrbio mental que mexeu com sua lucidez!!!
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