sábado, 27 de janeiro de 2024

ONODA

 

"Onoda" (2021), de Arthur Harari (Paris, 1981). A inacreditável história de Hiroo Onoda, soldado japonês colocado, em 1944, na ilha Lubang nas Filipinas. E por lá ficou 30 anos, sem acreditar no fim da guerra. Parece mentira, mas foi verdade. Uma co-produção entre França, Itália, Alemanha, Bélgica, Japão, Camboja. Valeu a pena o investimento. Se há vida que merece ser contada, é a deste soldado japonês em que uns poderão ver heroísmo e outros irão ver alienação. O que pensar de Hiroo Onoda, oficial do exército japonês que não acreditou no fim da guerra e foi defendendo, durante trinta anos, a sua posição numa ilha das Filipinas? Lunático? Herói? Lealdade extrema ao exército imperial japonês? Antes de ficar sozinho, arrastou consigo, durante décadas, um grupo de homens que lhe eram fiéis. Tinham como missão dificultar os ataques americanos na ilha, custasse o que custasse, levasse o tempo que levasse. A guerra terminou em 1945, mas não para Onoda e os seus homens. Acabou sozinho numa ilha de onde saiu apenas em 1974. Podemos dizer, talvez, que a ilha era ele próprio, um homem tomado pelo dever militar, pelas obrigações, privado de qualquer livre arbítrio que lhe garantisse algum discernimento. Sozinho nas montanhas, depois dos seus camaradas se terem rendido ou terem morrido em confrontos com os locais, Onoda chegou a ser dado como morto no Japão. E, de certa maneira, estava mesmo morto. O que sobrava dele nele? Estancado no passado, cativo na ilha do dever profissional, enclausurado na selva, surge-nos não como o derradeiro samurai ou o último dos moicanos, mas como alguém que não soube proteger-se desse dever de obediência que aliena os homens usurpando-lhes a mais elementar garantia de humanidade: a liberdade.


1 comentário:

sonia disse...

Esse caso é instigante! Sabe-se lá o que se passava na cabeça desse homem? Deve ter sofrido algum distúrbio mental que mexeu com sua lucidez!!!