sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

UNIDADES DE MEDIDA

 
O escritor contabilista é aquele que conta. Não por nos contar contos, não por aquilo que escreve contar para o nosso enriquecimento ou empobrecimento intelectual, emocional, etc, não por contar sílabas em busca da métrica perfeita, mas por contar o quanto escreve. É uma questão de quantidade. Há deles que contam o número de páginas produzidas por dia, há deles que contam o número de versos guardados em Excel, outros contam poemas deitados ao lume. Fico sempre impressionado com a precisão dos números. Uma vez, houve um que me garantiu que fabricava (o termo era este) 55 páginas diárias. 55, belo número. Outro gabava-se dos 62378 versos que tinha na gaveta. E eu a imaginar o tipo a contar versos. Agora, dou com o Manuel de Freitas a dizer que queimou 1200 poemas. Números redondos ou exactos? Não terão sido 1199 ou 1201? Quem raio é que se põe a contar o número de poemas que oferece a uma fogueira? Seja como for, fui fazer contas. Também tenho um gene contabilístico. Peguei na calculadora. Vamos imaginar que o de Freitas começou a escrever aos 10 anos e queimou aquilo tudo aos 40. Dá 30 anos a escrever poemas. 30 anos são 10950 dias. Ora, 1200 poemas a dividir por 10950 dias dá uma média de 0,1095890411 poemas por dia. Aposto que o Gonçalo M. Tavares escreve mais.

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