sábado, 20 de julho de 2024

BALEIA

 


Uma baleia leva tempo a desviver, a desbelecer, enquanto a carne é aprtilhada por caranguejos, polvos, tubarões, enquanto a gordura escorre dos ossos. Precisamos sempre de alguma coisa que os outros trazem consigo, não é? A carcaça da baleia em decomposição é um novo ecossistema, uma máquina do tempo, onde outras espécies evoluem. Pensem em mim como uma baleia, mas agora uma baleia viva, contem comigo longa, esguia, varramo o horizonte à procura do jato que vou soltar.
Não é água, é ar quente, condensa-se ao encontrar o frio da atmosfera, uma nuvem de gotinhas de água, podia ser neve se estivesse mais frio.
Quero ser a baleia, mas quero ser uma baleia que neva, ou uma chávena de chá rachada que passa a ser vaso, ou uma pedra que fala.
Às vezes a melhor coisa que podemos fazer pelos outros é fazer qualquer coisa por nós.

In Unraveling, Ana Vitorino, Carlos Costa, Mafalda Banquart, com ilustrações de Sara Allen, Companhia das Ilhas, Abril de 2024, s/p.

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