terça-feira, 2 de julho de 2024

CADA PESSOA FOI UM POVO PARA MIM

 


   Li muitos livros, devo confessá-lo. Quando eu desaparecer, alterar-se-ão todos esses volumes imperceptivelmente; crescerão as margens, afrouxar-se-á o pensamento. Sim, percebo hoje que falei com demasiadas pessoas; cada pessoa foi um povo para mim. Esse outro imenso fez com que me tornasse eu próprio bem mais do que aquilo que eu teria gostado. A minha existência é agora de uma solidez surpreendente, até as doenças mortais me acham obstinado. Peço desculpa, mas há por isso de haver quem seja enterrado antes de mim.

Maurice Blanchot, in A Loucura do Dia, tradução de Diogo Vitor, Livraria SNOB, Maio de 2024.

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