Pode fazer-se bom teatro com a filosofia? Em que
condições pode haver um teatro filosófico?
A expressão «teatro filosófico» desagrada-me, como também
as expressões «teatro político» ou «teatro psicológico», ou mesmo «teatro
épico». Compreendo as diferenças entre comédia e tragédia, mas, por outro lado,
não me parece que seja pertinente adornar a palavra «teatro» com qualquer
adjectivo. Nem sequer, diga-se de passagem, admito as expressões «filosofia das
matemáticas» ou «filosofia política» ou «filosofia estética»… São categorias da
Universidade, e a filosofia, idealmente, para recuperar uma distinção de Lacan,
é o discurso do Mestre, não o discurso da Universidade. Em filosofia não contam
senão os grandes filósofos, sem adjectivos de qualquer tipo. Isto vale também
para o teatro. Dito isto, a filosofia pode ser perfeitamente um dos materiais
do teatro. É claramente o caso do teatro de Goethe, de Schiller ou de Lessing.
Há bastante filosofia em algumas obras de Marivaux e muita nas maiores de
Pirandello ou de Ibsen. É também o caso, evidentemente, do teatro de Sartre, ou
do meu. E o seu Projet Luciole, a peça de teatro que você concebeu e encenou,
querido amigo, não faz escutar em cena, sem que a interpretação propriamente
teatral desapareça minimamente, numerosos textos de proveniência puramente
filosófica?
Alain Badiou en diálogo con Nicolas Truong, Elogio del Teatro, traducción de Idoia Quintana, prólogo de María Folguera, Continta Me Tienes, Madrid, Marzo de 2016. Versão de HMBF.
Sem comentários:
Enviar um comentário