Fala Manuel Monteiro:
É o que é. Os
homens tornam-se herbívoros por causa dos filhos. Dos caminhos dos filhos. E os
filhos tornam-se carnívoros por causa dos pais. A família é um lugar perigoso.
Uma ode à carnificina. Uma matilha que se come a si mesma.
p. 77.
A família é um
convite à estupidez e à carnificina. Um arquipélago de perigos, castigos,
traições, noites mal dormidas. Já vão ver o que vai acontecer quando eu começar
a raspar as possibilidades. Sangue a espirrar, como numa matança.
p. 107.
Fala Filomena:
—
Azar. Uma filha é a nossa última hipótese. Assim que ela nascer, podemos
esquecer-nos integralmente de nós. Das nossas necessidades e vontades, de quem
somos, das nossas ideias e pensamentos, dos nossos medos e frustrações. Vamos
apagar, delete, anular o eu e o outro. É assim que as pessoas aguentam isto,
Teodoro. Em prol da continuidade da espécie, da saga familiar. A família é um
arquipélago de aniquilações.
p. 113.
Sandro William Junqueira, in A Sangrada Família [Um drama
pouco burguês], Caminho, Junho de 2021.
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