“OK Computer”: Radiohead
Os Radiohead andam nas bocas
do mundo pelas piores razões. Thom Yorke insurgiu-se contra um manifestante
pró-Palestina que o acusava de ser pró-Israel (estes prós são maneiras de ver
as coisas por quem não quer ver as coisas, adopto-os aqui no sentido maniqueísta
que a comunicação social lhes dá). “Não sejas cobarde, vem cá acima dizer isso”,
terá respondido o vocalista dos Radiohead antes de sair do palco. Não sei qual
é a posição de Yorke relativamente ao conflito em curso, mas tendo em conta as
posições políticas que tomou anteriormente é para mim estranha toda esta
confusão. É conhecido o seu discurso sobre as mulheres de hijab: “nenhuma
mulher de burka, hijab ou biquíni me fez algum mal, ao contrário de homens de
fato e gravata”. Mais ou menos isto. Enfim, lamentaria profundamente se Yorke
sentisse alguma simpatia pelas decisões de Benjamin Netanyahu e não acredito
minimamente que isso seja exacto. A música dos Radiohead é para mim, desde “Pablo
Honey”, uma companhia constante. “Ok Computer” (1997) continua a ser a
obra-prima de fim de século que anunciou o nosso futuro pós-humano, o qual
estamos a viver actualmente encharcados em fármacos e intoxicados pelas drogas
livres on-line que enchem os bolsos dos dealers Jeff Bezos, Zhang Yiming, Elon
Musk, Bill Gates, Mark Zuckerberg e afins. Cada vez mais algoritmados,
assistimos em directo à destruição do planeta como se não fôssemos parte
integrante dele. A postura de resistência da banda à indústria que vem
destruindo o mundo da música é conhecida, assim como os sucessivos e, presumo, complexos
desvios do sucesso mais simplista. Acompanho-os desde o início, quando ainda
faziam as primeiras partes dos James no Pavilhão do Belenenses. Não queria nada
ficar com aquela sensação estranha com que por vezes fico depois de me desiludir
ao conhecer alguém cuja obra admiro. Hey man slowdown, idiot slow down.
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