sábado, 2 de novembro de 2024

50 X 6

 


“OK Computer”: Radiohead
 
Os Radiohead andam nas bocas do mundo pelas piores razões. Thom Yorke insurgiu-se contra um manifestante pró-Palestina que o acusava de ser pró-Israel (estes prós são maneiras de ver as coisas por quem não quer ver as coisas, adopto-os aqui no sentido maniqueísta que a comunicação social lhes dá). “Não sejas cobarde, vem cá acima dizer isso”, terá respondido o vocalista dos Radiohead antes de sair do palco. Não sei qual é a posição de Yorke relativamente ao conflito em curso, mas tendo em conta as posições políticas que tomou anteriormente é para mim estranha toda esta confusão. É conhecido o seu discurso sobre as mulheres de hijab: “nenhuma mulher de burka, hijab ou biquíni me fez algum mal, ao contrário de homens de fato e gravata”. Mais ou menos isto. Enfim, lamentaria profundamente se Yorke sentisse alguma simpatia pelas decisões de Benjamin Netanyahu e não acredito minimamente que isso seja exacto. A música dos Radiohead é para mim, desde “Pablo Honey”, uma companhia constante. “Ok Computer” (1997) continua a ser a obra-prima de fim de século que anunciou o nosso futuro pós-humano, o qual estamos a viver actualmente encharcados em fármacos e intoxicados pelas drogas livres on-line que enchem os bolsos dos dealers Jeff Bezos, Zhang Yiming, Elon Musk, Bill Gates, Mark Zuckerberg e afins. Cada vez mais algoritmados, assistimos em directo à destruição do planeta como se não fôssemos parte integrante dele. A postura de resistência da banda à indústria que vem destruindo o mundo da música é conhecida, assim como os sucessivos e, presumo, complexos desvios do sucesso mais simplista. Acompanho-os desde o início, quando ainda faziam as primeiras partes dos James no Pavilhão do Belenenses. Não queria nada ficar com aquela sensação estranha com que por vezes fico depois de me desiludir ao conhecer alguém cuja obra admiro. Hey man slowdown, idiot slow down.

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