É uma chatice este desperdício do ímpeto celebrativo que
contamina a vetusta nação, levando a que quase invariavelmente se passe ao lado
da discussão dos problemas em benefício da distribuição de abraços,
apalpadelas, muito amor e amizade desprovidos de autenticidade. Tudo para
inglês ver e o pito egóico consolar.
Tope-se, a título de exemplo, como os putativos 500 anos
de Camões passaram ao lado da utilização da épica para glorificação de uma
história colonialista que ainda hoje assoma à boca de muita gentalha. Ontem,
num programa humorístico desgraçadamente sem graça, lá apareceu um a advogar
que "a xenofobia salva vidas" porque, presumo, nos faz desconfiar dos
terríveis malfeitores que vêm de fora. Infelizmente, não nos protege dos
estúpidos que temos cá dentro.
Os 50 do 25A são mais um exemplo de como se consegue
passar ao lado do que é relevante, aquela matéria que nos prepara para o futuro
e a poucos parece importar. O rissol na cocktail party é mais relevante.
Mais do que a vontade de derrubar um regime bafiento, foi
a guerra colonial que motivou a revolução militar. Era essencial perceber
porquê, mostrar aos de hoje o que andámos a fazer nas ex-colónias, os crimes de
guerra por nós perpetrados, essas coisas de que pouco se fala para não
assumirmos o racismo que nos corre nas veias. Enquanto estes problemas não
forem clara e abertamente discutidos, sob pretexto de feridas saradas que mais
não são do que pensos rápidos em gangrenas, vamos continuar a ter quem defenda
a xenofobia como disfibrilhador.
As celebrações, neste país, são sempre areia atirada aos
olhos do ceguinho, regada a beijinhos, abraços, condecorações, chantilly nos
egos das elites para lambidelas movediças. Triste sina.
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