sábado, 4 de janeiro de 2025

50 X 20

 


“4-Track Demos”: P. J. Harvey
 
P. J. Harvey foi uma daquelas descobertas inesperadas a meio de uma noite de copos em casa de um amigo. À época, descobria-se música na MTV. Pela matina, corri à Bimotor a ver se tinham “Dry” (1992), o único álbum lançado até então pela “cantora, compositora, produtora musical e poetisa britânica” (vem na Wiki e eu não desminto). Ouvi falar dela como herdeira de Patti Smith. Há sempre esta necessidade de vislumbrar linhagens quando se fala de música. Enfim, a referência não era desmerecedora de atenção. A verdade é que quando ouvi “Sheela-Na-Gig” (alusão às figuras com grandes vulvas que aparecem em edifícios medievais concentrados sobretudo na Irlanda) achei estar na presença de algo completamente novo para mim, e não me enganei. Depois de uma primeira fase em que a afirmação do feminino no universo rock parecia ser matricial, houve mudanças substanciais em “Let England Shake” (2011) e “The Hope Six Demolition Project” (2016). Liricamente, temas de índole social meteram-se pelo caminho apelando, curiosamente, a arranjos musicalmente mais elaborados, já não tão restritos às descargas vigorosas de uma guitarra acompanhada por baixo e bateria. A colaboração com Nick Cave terá produzido efeitos, aprofundada posteriormente com Mick Harvey (ex-Bad Seeds) e John Parish, este último companheiro também em álbuns a dois tais como “Dance Hall at Louse Point” (1996) e “A Woman a Man Walked By” (2009). Mas o meu disco preferido é outro, chama-se “4-Track Demos” (1993). Trata-se de um conjunto de gravações feitas num registo absolutamente rudimentar, com um simples gravador de quatro pistas. O talento de Polly Jean Harvey para a escrita de canções fica aí completamente assinalado em temas que na sua versão mais primitiva adquirem uma força extraordinária.

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