Aqui, no reino da mediocridade
a ignorância é método
o preconceito é ciência
e a hipocrisia religião
De joelhos, os guardiões do templo
tiram retratos boçais
que partilham em rede
para gáudio de velhos tiranos
ressuscitados por todo o lado
Somos estrelas
nesta pop globalizada
que o grande irmão vigia
Estrelas decadentes
de impérios à deriva
guiados por oligarcas
empreendedores
multimilionários
a salvo do fisco
e do sono dos justos
Adormecidos, os humilhados
e os ofendidos assistem
impávidos e serenos
ao levantamento dos mortos
que da América à Turquia
dão lustro à barbárie
No reino da mediocridade
andamos todos satisfeitos
por termos milhares de amigos
com quem podemos partilhar
gostos e não mais do que gostos
quando a fome aperta
e a sede nos empurra para festas
feiras e festivais
Isto aqui vai indo num contentamento
já nem descontente nem com tento
Tudo tão influente
que até parece rico
a bem da indústria dos ansiolíticos
e do tráfico de indulgências
Epifânio Carmino, "Epístolas".
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