sexta-feira, 18 de abril de 2025

PASSADIÇOS

 
Entretanto o mundo encheu-se de revolucionários acomodados, indignados conformados com a inevitabilidade das derrotas, utópicos realistas que sonham acordados e dormem sobre os factos, gente que sim senhor, meu caro amigo, minha querida, como vai, pessoas que já nem sequer assobiam para o lado nem mijam contra o vento porque deixaram de assobiar e mal mijam, esses tipos que para diante é que é caminho, desde que por passadiços com regras de segurança asseguradas pela inspecção da higiene e segurança no trabalho, isto é, inspectores, burocratas, mas muito anarquistas ao volante do carro eléctrico ou a gasolina, tanto faz, desde que tenha gps, aventureiros das férias programadas e dos restaurantes estrelados em pesquisas no Google, homens e mulheres amigos de seus amigos, leitores de Cesariny incapazes de se voltarem para o gerente, apontarem o dedo ao leite e protestarem: está azedo, porque é feio, não fica bem, o que interessa, o que importa, ou seja, o que real e verdadeiramente nos abre portas e desbrava caminhos é sermos uns para os outros, não fazermos ondas, surfar terrenos planos, que a vida está uma canseira, o preço a pagar pelas coisas já não tem vida, paga-se o viver com a morte certa e, assim como assim, é ir andando de cabeça entre as orelhas, nem baixa nem erguida, e o calendário nutrido em contactos para o que der e vier.

Sem comentários: