quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

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“Out of Season”: Beth Gibbons & Rustin Man
 
A voz de Beth Gibbons tornou-se familiar através dos Portishead, nesses idos de 90 que nos ofereceram o trip-hop como alternativa ao rock de guitarras reavivado pelo grunge. Tanto Dummy (1994) como Portishead (1997) foram presenças assíduas num período particularmente complexo. Muitos anos passados, eis-nos de novo devotos de uma voz capaz de nos arrancar dos pântanos em que o quotidiano nos afunda. Out of Season (2002) e Lives Outgrown (2024) são medicina de que o corpo já não prescinde, mesmo se Mysteries ficar para sempre associado a mais um desses momentos de insídia com que a vida nos brinda por atalhos inesperados. Seja como for, nada me faria desperdiçar o descanso que é ouvir Gibbons na companhia ora de Paul Webb, ora de Lee Harris, respectivamente baixista e baterista dos Talk Talk. Portanto, sento-me num banco de madeira a ouvir caírem as folhas da árvore da vida e dou descanso a rancores e sanhas, que para vãs ambições há muito deixei de oferecer esmola. Por mais vícios que possa ter, guardo num lugar sagrado da mente este horizonte muito vivo da efemeridade que nos traz sobre a Terra e, com o passar dos anos, apercebo-me como isso tem contribuído decisivamente para não desperdiçar mais do que o necessário com a vanidade ignóbil daqueles que se julgam acima da miséria em que definham. No refrão de Floating on a Moment canta Beth Gibbons: «I’m floating on a moment / Don’t know how long / No one knows / No one can stay / All going to nowhere / All going / Make no mistake». Não tenho dúvidas, não me restam dúvidas, posto que se aproveite o momento apesar das interferências.

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