Dois animadores de uma rádio australiana fizeram-se passar
pela rainha de Inglaterra e o príncipe Carlos, ligando para o Hospital onde
estava internada Kate Middleton. A enfermeira que os atendeu não percebeu que
estava a ser alvo de uma piada e rapidamente se transformou em saco de boxe
para a chacota das pessoas divertidas. Resultado: enforcou-se. O mundo está
cheio de pessoas divertidas e bem-humoradas, engraçadinhos que pregam partidas
e se divertem muito rindo da ingenuidade dos outros. Antes começassem por se
rir de si próprios. Este caso recordou-me uma discussão que tive em tempos, em
torno de partidinhas do género levadas a cabo pelo humorista Nilton no programa
5 Para a Meia-noite (não sendo caso único, é o mais recorrente). Como sou um bota-de-elástico com o sentido de humor de uma
múmia, nunca consegui esboçar um sorriso que fosse com tais partidinhas. E certo
dia mostrei-me revoltado com o humor sórdido praticado sobre gente indefesa,
como a rapariga que está no seu posto de trabalho e se vê obrigada a manter uma
postura séria perante o cliente mais estapafúrdico. Porque há sempre a hipótese
de se tratar de um cliente mistério, daqueles que avaliam a nossa competência e
determinam a continuidade ou cessação dos contractos de trabalho. Nunca vi mal
algum em ser-se alvo de uma partida, mas deslocar da esfera privada para a
esfera mediática situações de logro, onde só os elos mais fracos são vítimas de
gozação, equivale, no meu mundo conservador e moralista, a um linchamento público
da auto-estima. E isso pode ser perigoso, levando a gestos radicais como o de
Jacintha Saldanha. Ela não pagou o que devia, pagou, provavelmente, por ser
frágil num mundo de gente bruta e insensível, incapaz de ponderar a diferença que
diferencia uns de outros. Mas isto sou eu a pensar, na minha redoma moralista e
conservadora, com o sentido de humor de uma múmia. O mundo é dos artolas, gente engraçada e divertida a quem
nada pode atingir porque estão protegidos pela carapaça da indiferença.
3 comentários:
Concordo plenamente.
De ha uns anos para cá, em Portugal aparecem humoristas como cogumelos, e a ambição é tanta, que se julgam com talento para diáriamente produzir bom material. Malta como o Conan, ou o John Stewart, têm uma equipa (que suponho bem grande) de humoristas a escreverem para um monólogo de 5 minutos no início dos programas. Reis do standup, como o Lewis Black ou o Doug Stanhope, fazem menos de um espectáculo por ano. Aqui em Portugal imitam um Cavaco a queixar-se do facebook, e umas chamadas anónimas com suposta pronúncia de alentejano, e nós, idiotas, batemos palmas. Preferia que o Ricardo Araújo Pereira fizesse uma boa mixórdia de temáticas por semana do que diáriamente tentar forçar o riso, naquelas manhãs frenéticas da rádio.
de certeza que humoristas chatos como o Nilton, levam umas lambadas de vez em quando, mesmo que tenham seguranças escondidos nas proximidades.
a reacção a este caso é excessiva, mas talvez faça as pessoas pararem e pensarem um bocado na sua vidinha.
Não é de uma múmia. É requintado; bem diferente!(Dá para perceber, sim.)
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