terça-feira, 11 de junho de 2013

O DIREITO AOS EXAMES E O DEVER DA GREVE

Camarada Van Zeller, estava eu a aprontar-me para mais uma revisitação cinéfila quando, impedido de caminhar pelo peso na consciência, resolvi escrever-lhe esta missiva na melhor das intenções. Estive para fazê-lo no Domingo, depois de ter ouvido a intelectual Clara Ferreira Alves dizer que os professores tinham razão mas estava completamente contra a greve porque os direitos dos alunos deviam prevalecer. Raciocínio fodido. Desde logo porque, de uma assentada, ficámos a saber que não basta ter razão para justificar uma reivindicação, que há certas formas de luta cuja justiça se avalia não pelos motivos mas pelos efeitos e, por fim, que entre os direitos dos professores e os direitos dos alunos se estabelecem intrincadas hierarquias. A partir de hoje um direito deixa de ser um direito, passa a ser um direitinho se sobre ele pesar um direitão. Eu, que fui professor do público e do privado, buli a recibo verde sem ver compensadas horas de apoio escolar, vigilância de exames, reuniões de avaliação e etc, muitas vezes falei contra a classe. Tenho esse mau feitio. Mas hoje, agora, neste momento, estou em perfeita sintonia com os docentes. Tivesse eu uma filha, dir-lhe-ia junta-te à luta dos teus professores. A luta deles é a tua luta. Os seus direitos são os teus direitos. O direito a uma escola pública de qualidade, com professores competentes, exigentes, socialmente reconhecidos pelo bem tremendo que têm a oferecer a uma sociedade claudicada por tecnocratas e intelectuais de algodão doce e mão debaixo do queixo. Está visto, não precisamos de mais exemplos, que quando toca a agir o intelectual enfia o rabinho entre as pernas e zarpa para porto seguro. Apela à indignação, mostra-se deveras enraivecido e agastado, mas sempre no conforto da secretária onde dá corda à pluma caprichosa da hipocrisia. Os direitos dos alunos devem, então, prevalecer sobre os direitos dos professores? Ok. Relvas, o aluno exemplar, não diria melhor. Fosse este o limite da justiça que fundamenta o protesto, caro Van Zeller, e dificilmente teríamos hoje um mundo tão civilizado, de alunos empenhados em lutas estudantis, erguendo ao alto hip hip hurras de satisfação enquanto na tenda o Quim Bairros mama nos peitos da cabritinha. Questiono-me, porém, desde quando realizar um exame final é um direito? E admitindo andar muito torto, pergunto-me igualmente quantos alunos não estariam na disposição de prescindir de certos direitos? Em prol, claro está, do direito a uma educação justa, livre e imparcial. Considerando a discussão inútil e o debate inglório, ergo-me cheio de dores na direcção do televisor e ligo o aparelho. Alguém compara a greve dos professores em época de exames a deixar um paciente abandonado numa sala de urgências, numa hiperbolização extraordinário dessa entidade doentia que dá pelo nome de aluno (o paciente) e da doença terminal que são os exames. Remova-se o cancro de uma vez, portanto, porque os direitos do doente prevalecem sobre os direitos do doutor e é até provável que prevaleçam sobre os direitos da doença. Resta-nos, camarada Van Zeller, orar a Nossa Senhora de Fátima pelo bom tempo, pelas boas avaliações da troika e por comparações menos parvas, na esperança de que a cabeça dos alunos não seja tão obtusa quanto a destes intelectuais de pacotilha com revoluções de papa no currículo. Juntem-se, ó alunos, aos vossos professores. Façam todos greve aos exames e mostrem ao que estamos: um ensino público de qualidade. Pudessem, em paralelo, os doentes fazer greve à doença!

9 comentários:

Ivo disse...

Concordo da 1ª à última palavra.
Gostava de perguntar à Sr.ª Clara Ferreira Alves se de cada vez que há um exame (leia-se avaliação) da Troika ao regime de empobrecimento (leia-se resgate) a que o país Portugal está sujeito, os direitos dos cidadãos portugueses prevalecem sobre os desejos do gang que dia após dia arruina o país.

rff disse...

Vai ver o Searching for Sugar Man. Está lá Tudo..

joao cruz disse...

eu so gostava de saber o pk de tanta greve, acham que ganham pouco, como num pais que por exemplo tem vagas para 1000 professores de historia, ha 5000, para mim quem fizesse greve, ficava sem o lugar, a mais, funcionarios publicos era despedir metade e a outra metade polos a trabalhar, mas no sentido de trabalhar, portugal e um pais de parasitas e cada vez mais!!!!!!!!!!!!!!

hmbf disse...

e de analfabetos funcionais também

cenas disse...

"mostrem ao que estamos: um ensino público de qualidade." É esta hipocrisia que me custa compreender, isto porque os professores não fazem greve "por um ensino de qualidade", porque se fosse por isso, todos nós faríamos greve em solidariedade com os professors. Ou com os médicos, quando estes fazem greve por um "serviço nacional de saúde de qualidade", ou com funcionários da CP por "uma rede de transportes públicos de qualidade". Eu pessoalmente não tinha nenhum problema que os professores dissessem, claramente, que fazem greve pela reivindicação de direitos laborais (justos ou não, não interessa). É para isso que serve um sindicato, não é para "defender a causa pública", é para defender os seus associados. Qual é o problema em admitir isto? No entanto, há certas classes profissionais se procuram colocar acima dessas preocupações mesquinhas com a "vidinha", alegando sempre que fazem greve por motivos superiores e nobres, como se os direitos laborais fossem um pequeno pormenor, que por si só não justificam uma greve.

hmbf disse...

não falo com desconhecidos, a conselho da mãezinha

cenas disse...

Não o censuro, mãe é mãe.

Mas seria sensato prestar mais atenção aos perigos de assinar com o nome verdadeiro. Não vá um dia precisar que o camarada Van Zeller lhe dê emprego.

hmbf disse...

quero que o camarada van zeller se foda. Henrique Manuel bento fialho. quero que a sensatez se foda também.

hmbf disse...

«Milhares de professores estão a manifestar-se neste sábado, em Lisboa, contra as políticas do Governo na área educativa, especialmente a mobilidade especial e o aumento do horário de trabalho dos docentes.»

Sublinha-se: «a mobilidade especial e o aumento do horário de trabalho».

Razões que nada que têm que ver com a qualidade do serviço prestado, porque segundo o raciocínio de algumas luminárias as condições do trabalho não condicionam a qualidade do serviço. Podemos, portanto, voltar aos tempos da Revolução Industrial. Os mínimos estão garantidos.