Santos, Lisboa. 2012.
DESESPERANÇA
Vai-te na asa negra da desgraça,
Pensamento de amor, sombra duma hora,
Que abracei com delírio, vai-te, embora,
Como nuvem que o vento impele... e passa.
Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
Com mais ânsia, à nossa alma! e quem devora
Dessa alma o sangue, com que mais vigora,
Como amigo comungue à mesma taça!
Que seja sonho apenas a esperança,
Enquanto a dor eternamente assiste,
E só engane nunca a desventura!
Se em silêncio sofrer fora vingança!...
Envolve-te em ti mesma, ó alma triste,
Talvez sem esperança haja ventura!
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Antero de Quental.
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