O fim da Guerra Civil Americana em 1865 reservou destinos
diversos para os ex-combatentes dos Estados Federados. Muitos, rumaram na
direcção do México em busca de uma nova oportunidade. As forças de
Benito Juárez batiam-se, então, contra as tropas do Imperador
Maximiliano. Trava-se a luta pela independência do México. Maximiliano, nascido
em Viena, tinha sido colocado no território pelo imperador francês Napoleão III.
Protegido por tropas francesas, ordenou a execução dos líderes republicanos
mexicanos. Restava Juárez e os seus homens, essencialmente camponeses, fiéis à causa
da independência, desprovidos de armas e de preparação militar. Os
mercenários sulistas norte-americanos ofereciam a sua experiência a quem
pagasse mais, colocando-se a si próprios numa situação de mercadoria. A história de Borden Chase
(mais uma) que Robert Aldrich (1918-1983) adaptou ao cinema em 1954, apoia-se
nestes elementos históricos para desenvolver uma aventura frenética,
integralmente filmada no México, que resistiu como o melhor dos filmes
assinados pelo realizador de What Ever Happened to Baby Jane?. Vera
Cruz apresenta-nos dois mercenários distintos, numa época, nunca é escusado
lembrá-lo, em que os EUA disseminaram pelos quatro cantos do mundo este género
de profissionais da guerra. Benjamin Trane (Gary Cooper, um ano depois de ter
ganho um Oscar pelo desempenho em High Noon) combateu pelo Sul na Guerra de
Secessão. Perdeu tudo. A determinada altura, confessa que desses tempos resta-lhe
apenas a camisa cinzenta. Mas cedo perceberemos que não é bem assim. Se já não
guarda quaisquer resquícios idealistas, colocando o seu interesse sobretudo nos
benefícios materiais, a verdade é que mantém uma sageza na arte de negociar que
faz dele, apesar de tudo, uma personalidade muito mais diplomática do que Joe Erin. Este, interpretado por um Burt Lancaster desumano, é o típico outlaw
sem problemas de consciência. Não tem amigos, desconfia das pessoas, chama a
Trane coração mole quando este mata um cavalo para o impedir de sofrer ou
defende uma pobre camponesa “juarista” de ser humilhada pelos gangues de
americanos que entravam no México nesses tempos. Parceiros na aventura de Vera
Cruz, acabarão por confrontar-se num duelo final que parecia inevitável desde o
início. Contratados pelo Imperador Maximiliano para escoltarem a condessa Marie
Duvarre (Denise Darcel, a mesma de Westward the Women) até ao porto de Vera
Cruz, Trane e Joe, mais uma dúzia de homens, juntam-se aos militares comandados
pelo marquês Henri de Labordere para uma viagem repleta de surpresas. Entre os
americanos requisitados, encontramos o grande Ernest Borgnine (The Wild Bunch) e um incipiente Charles Bronson. Rapidamente a tarefa se complica quando Joe & Trane se apercebem de que estão a escoltar não apenas uma
condessa mas também uma quantia inestimável de ouro escondida debaixo dos pés
da aristocrata. Ouro roubado aos mexicanos, a caminho da Europa como pagamento
pelo reforço das tropas que garantiriam a continuidade do Império. Assistiremos,
então, a um curiosíssimo choque de culturas. Por um lado, a aristocracia
europeia, colonialista e imperialista, com as suas formalidades e os seus
esquemas maquiavélicos de intriga palaciana. Por outro lado, a informalidade dos
mercenários norte-americanos, divididos entre um egoísmo selvagem e pretensões meramente
pragmáticas e utilitaristas. Por fim, um povo ostracizado e humilhado, em busca
da libertação, na defesa de uma causa moralmente nobre com métodos pouco
convencionais, representado, sobretudo, pela figura de Nina (a bela Sara
Montiel). O que liga esta panóplia é uma teia de interesses diversos,
afunilados na direcção de um bem comum: o ouro. Montado com o ritmo dos filmes
de aventuras e o realismo dos melhores épicos produzidos por Hollywood, esta
obra de Robert Aldrich tem o mérito de transmitir um desencanto sobre as
lutas da humanidade que está longe de ser pacífico. As personagens aqui evocadas,
exceptuando, talvez, os libertadores de Benito Juárez, retratados com dignidade
moral na personagem do General Ramírez (Morris Ankrum), parecem ter-se afastado
definitivamente do sentido altruísta que sustém as grandes causas. Com mudanças
rápidas de planos, Aldrich sublinha uma agitação que os rostos das personagens
não disfarçam. São seres desconfiados e oportunistas num poker onde o bluff e a
traição ditam as regras com irreversível fatalismo. Estamos, ainda, no domínio
do western clássico, num ano rico para o género com filmes tais como
Johnny Guitar, The Far Country ou Drums Across the River.
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