terça-feira, 23 de setembro de 2014

«Quando reparamos (no orgulho ou no desespero) pelo rebolar da queda (ou outrém no-la aponta) às vezes é tarde de mais. Já'stá!»


Quem (como J. R.) não cuidou nada da sua promoção artística, no plano, quase cómico ou mesmo muito cómico de tão frenético, como ela hoje entre nós e não só, tá visto, se pratica; quem (como J. R.) atirava ao ar o que lhe saía da mão com  (saber-se-á alguma vez como e porquê?) o à-vontade de querer voar também (da janela à rua), não vai supor, ninguém suponha, que vivaços mexilhões terrenos, até os amigos da lagrimeta saudosista, se preocupem agora com ele. Vai para sete anos, numa breve nota necrológica publicada no & etc... do Fundão, fiz este vaticínio. A obra que o João deixou pode, por uma coerência natural com ele, ter destino paralelo. Até aqui, aconteceu.

Luiz Pacheco, in Textos de Guerrilha 2.ª série, Ler, Editora, Junho de 1981, pp. 79-81. A imagem ao alto, de João Rodrigues, foi copiada de Surrealismo/Abjeccionismo - antologia de obras em português seleccionadas por Mário Cesariny de Vasconcelos de acordo com o propósito inicial, Editorial Minotauro, Março de 1963.

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