quinta-feira, 25 de setembro de 2014

THE HORSE SOLDIERS (1959)




Dos filmes de cavalaria realizados por John Ford (1894-1973), The Horse Soldiers/Os Cavaleiros (1959) é dos menos considerados. Justa ou injustamente, a verdade é que se trata de um filme recheado de estrelas. Nos papéis principais temos o omnipresente John Wayne (coronel com a importante missão de liderar três regimentos por território inimigo) e William Holden (médico do exército). Além destes dois pesos pesados, voltamos a encontrar actores com quem Ford trabalhou regularmente. Hank Worden e Ken Curtis entram ambos, a título de exemplo, em The Searchers/A Desaparecida (1956). Pormenor histórico relevante é o facto de se tratar do último filme do popular actor Hoot Gibson, estrela maior do western norte-americano com uma carreira iniciada ainda nos tempos do cinema mudo. Do lado feminino, voltamos a ver Anna Lee e somos apresentados à então jovem Constance Towers (voltaria a trabalhar com Ford em Sergeant Rutledge/O Sargento Negro, de 1960).



É entre Wayne e Constance Towers que assistimos a uma das cenas mais brejeiras de que há memória nos filmes de Ford, quando Constante, chegando-se a Wayne com decote avantajado e de bandeja na mão, lhe pergunta qual a parte do galo que ele prefere: a perna ou o peito? Estamos ainda numa fase inicial da relação. Wayne, neste caso Coronel John Marlowe, lidera um grupo de militares da União por terreno confederado. Constance, ou Miss Hannah Hunter of Greenbriar, é uma rapariga sulista, solidária para com os homens da farda cinzenta. Por precauções que não vem ao caso expor, acabará detida pelos homens do coronel Marlowe. E com eles seguirá viagem. A tensão entre ambos perdurará até ao final, embora sejam vários os momentos em que os olhares, as confissões, os gestos, as promessas, as traições, nos levam a crer não poder continuar a ser aquela uma relação vulgar. Os opostos atraem-se.



O pano de fundo é, pois, a Guerra de Secessão, mais propriamente um dos episódios da famigerada Campanha de Vicksburg. Cito o artigo da Wikipedia: The movie is based on the true story of Grierson's Raid and the climactic Battle of Newton's Station, led by Colonel Benjamin Grierson who, along with 1700 men, set out from northern Mississippi and rode several hundred miles behind enemy lines in April 1863 to cut the railroad between Newton's Station and Vicksburg, Mississippi. Grierson's raid was part of the Vicksburg campaign, culminating in the Battle of Vicksburg. Filmado a partir do ponto de vista dos blues, o filme baseia-se na realidade para explorar elementos paralelos à guerra ou a ela inerentes. As pontes que unem margens separadas pelas águas dos rios surgem frequentemente como elementos paisagísticos tipicamente fordianos: são projecções naturais de tensões humanas. O médico do exército, cuja missão é preservar a vida, situa-se numa margem oposta à do militar cuja missão colocará, inevitavelmente, várias vidas em risco. O coronel John Marlow e o major Henry Kendall, médico interpretado por William Holden, são parte integrante de um mesmo corpo militar, lado a lado, mas as funções de ambos colidem amiúde. Por isso o argumento deixa na penumbra as correlações de forças entre as facções militares, apostado que está em destacar as tensões existentes no interior de uma mesma facção. Sendo certo que oscila demasiado entre as relações Marlow-Kendall e Marloww-Hannah, não se focando nem aprofundando exaustivamente nenhuma delas, seria porém injusto afirmar que se trata de um filme falhado no retrato composto da vida militar. Ainda que esse retrato não pareça ser o principal objectivo, as querelas, as ambições, os medos, as frustrações, o terror, os ódios, o orgulho, a estúpida e cega lealdade a causas mais ou menos nobres, mais ou menos perdidas, são evocados em sequências de guerra que apenas simplificam o que outros filmes de Ford já haviam ilustrado. É discutível se este acrescenta ou não algo ao que ficou para trás, mas ainda que pouco acrescente é um gozo ver contracenar John Wayne e William Holden, observar até que ponto métodos distintos (e aqui podemos também falar de representação) podem coexistir numa mesma missão.

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