Entretanto sentas-te numa pedra a olhar quem passa, está um
calor difícil de suportar, a alegria dos transeuntes não te entusiasma, antes
te interpela, porque não consegues participar de tamanhas vontades, não danças,
não ris, não consegues sequer perceber a música que dentro de ti pede apenas
que pares e que te sentes numa pedra a observar quem passa, miúdas com unhas de
gele, tatuadas, rapazes em tronco nu exibindo horas de ginásio enquanto bebem
pelo gargalo um vinho medíocre, um entroncamento de cores e de cheiros e de
sons onde são perfeitamente audíveis os jogos forçados da mente: há muito
desisti de ser feliz, bastam-me agora silêncio e paz. Entretanto uma nuvem surge para te fazer companhia, olhas
para ela isolada no vasto céu azul e logo te identificas, também tu isolado no
meio da multidão és a sombra que resiste envolta em luz, também tu tens olhos
de cansaço e de saturação com que questionas mundo e vida e morte, também tu
olhas com desconfiança para quem passa e duvidas de tanto júbilo sem resquícios
de paixão, também tu assim sentado numa pedra te censuras enquanto aos outros
ofereces apenas a iníqua desestima dos teus olhos: há muito desisti de ser
feliz, bastam-me agora silêncio e paz.
1 comentário:
cada vez mais, isso da paz.
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