No decorrer das caminhadas fui reparando em inúmeras teias
de aranha espalhadas pelos caminhos. Avistavam-se em todo o lado, mas as mais
belas eram, sem dúvida, as que se encontravam entre as ervas onde o gado
pastava. Com a bafagem observada entre as noites e as manhãs, era fácil imaginar
que aquelas construções minuciosas fossem para as aranhas o que as camas de
rede são para os homens. Ao contrário da minha mulher, sempre gostei de
aranhas. Trago algumas há anos por companhia, uma no retrovisor do carro, outra
numa das janelas de sótão cá de casa. Não são definitivamente sinal de
dinheiro, mas inspiram-me pensamentos, ideias, divagações. No quintal, uma aranha para aí do tamanho de uma noz armou a teia entre um ramo da macieira e
uma das canas que “arreiam” o feijão-verde de trepar. Filmei-a em pleno labor. Fico
agora horas inteiras a rever os 10 minutos de filme, tentando compreender o que
a levava a tecer repetidamente no mesmo lugar a mais geometricamente perfeita construção
de que tenho memória. Persistência, obstinação, perseverança são vícios ou
virtudes humanas. Num aracnídeo serão atributos do instinto. Tenho muito a
aprender com estes bichos, eu que a toda a hora desisto, que não arrisco, que
sou volátil como os felinos. Teias,
apenas as que na mente capturaram a fé, a paixão, o espanto, transformando cada
hora em mais uma previsível ocasião para a monotonia.
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