Arredado do “pseudocinismo” triunfante, Teixeira de
Pascoaes não é conciliável com a lírica à la carte da actualidade. Resiste por
isso esquecido a um canto empoeirado, preterido por modernismos de pacotilha e
surrealismos de cabeceira. Não interessa porque questiona, incomoda, exige do
pensamento um esforço de concentração nada dado à ligeireza criativa dos dias
correntes. Onde terá adormecido a luz outrora vislumbrada pelo aristocrata de Amarante?
De olhar atento às matérias do mundo, feriu-se-lhe a consciência de observar uma
miserável paisagem humana de indigentes andrajosos, mulheres agonizantes com
filhos ao colo, pedintes desgraçados, mendigos, lares desfortunosos, magros
proletários, pobres pescadores, enfim a dor dos oprimidos, a grande dor do
sofrimento humano. Tanto no campo como na cidade, uma paisagem humana degradante existindo no seio da Natureza
restauradora, entre rochas que meditam e árvores que sonham. Idealista?
Cabalístico? Místico? Panteísta? Talvez tudo isso no estremecimento de quem
questiona e se interroga. Entre suposições e interrogações, pressupõe como uma
espécie de postulado a harmonia ignota deste nosso mundo. Por mais dissonante e
caótica que pareça a realidade, o espírito tende a visionar por detrás do caos
a lei que o explica e torna compreensível. Caberá ao poeta, pela força da sua
expressão, elaborar a ciência dessa lei? Um poema para começar o dia:
ANTEMANHÃ
Sem comentários:
Enviar um comentário