segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

BOAS MÁS NOTÍCIAS

O que há nas boas notícias que as torna desinteressantes? As boas notícias são como as personagens boazinhas, rapidamente as olvidamos. Paradigma, ao Kevin Spacey de Sete Pecados Mortais bastaram poucos minutos em cena para se tornar inesquecível. A quantas personagens boazinhas é dedicada a mesma atenção? Amélie Poulain precisou de um filme inteiro centrado nela. Da Áustria chegam-nos boas notícias. A derrota da extrema-direita nas presidenciais só aparece ao fundo da página. Seria assim se tivesse vencido? Por sua vez, no topo temos o não à reforma constitucional referendada em Itália. A acompanhar a notícia, que para o cidadão comum não é boa nem é má, lá vem o parágrafo sobre eventuais eleições antecipadas, porta aberta aos populismos italianos, declarações da xenófoba francesa Le Pen à propos. Os media já não sabem viver sem esta excitação do mal, do negativo, do medo. O pânico é um aliado infalível das notícias, mas um inimigo cruel da reflexão. Por que é que uma boa notícia na Áustria não tem o mesmo interesse que uma notícia assim-assim em Itália? Porque a notícia assim-assim tem uma face carregada de ansiedade, e é isso que empolga as massas, atrai as atenções. Desta miséria humana já não nos safamos. 

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