sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

I'M ONLY BLEEDING

A meio da década de 1960, Bob Dylan inflectiu na direcção dos blues e do rock’n’roll com homenagens a Chuck Berry, Muddy Waters, Sonny Boy Williamson. A influência de Woody Guthrie mantém-se tanto em termos líricos como ao nível da composição. Sucede que a tradicional viola acústica a que a folk music se confinava encontra o ruído das guitarras eléctricas, conjugando-se para ultrapassar convenções e desbravar o caminho para uma dimensão lírica do rock até então desconhecida. Já toda a gente sabe do escândalo que foi Bob Dylan aparecer em palco como uma guitarra eléctrica a tiracolo, mas poucos se têm interrogado sobre a atitude contestatária inerente a tal gesto de rebeldia. Em si mesmo, o gesto de Dylan foi uma canção a derruir as muralhas do preconceito. Acresce que em Bringing It All Back Home (1965) encontramos alguma da lírica mais alucinada e onírica saída da pena dylaniana. O ano ficará marcado pela chegada de tropas americanas ao Vietnam, pelo assassinato de Malcolm X, pela invasão da República Dominicana, por toda uma série de factos e de acontecimentos que conferiam ao mundo uma imagem apocalíptica. Canções como On the Road Again, Bob Dylan’s 115th Dream, Mr. Tambourine Man, reflectem esse estado caótico da sociedade de então, tendo algumas das imagens surrealistas que as compõem chegado a ser associadas ao consumo de drogas como se fosse necessário um homem drogar-se para exprimir a vertigem de um tempo confuso e desarrumado. No zénite deste onirismo, como o velho da montanha que lá do alto nos observa, surge It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding). É difícil não falar de génio quando nos deparamos com uma canção destas. Quem questiona ou duvida das capacidades poéticas de Bob Dylan devia ser obrigado a ler esta letra em voz alta pelo menos uma vez na vida:


(…)

For them that must obey authority
That they do not respect in any degree
Who despise their jobs, their destinies
Speak jealously of them that are free
Cultivate their flowers to be
Nothing more than something they invest in

While some on principles baptized
To strict party platform ties
Social clubs in drag disguise
Outsiders they can freely criticize
Tell nothing except who to idolize
And then say God bless him

While one who sings with his tongue on fire
Gargles in the rat race choir
Bent out of shape from society’s pliers
Cares not to come up any higher
But rather get you down in the hole
That he’s in

But I mean no harm nor put fault
On anyone that lives in a vault
But it’s alright, Ma, if I can’t please him



(…)

1 comentário:

MJLF disse...

O discurso do Bob Nobel :) http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/2016/dylan-speech.html?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twitter_tweet