A meio da década de 1960, Bob Dylan inflectiu na direcção
dos blues e do rock’n’roll com homenagens a Chuck Berry, Muddy Waters, Sonny
Boy Williamson. A influência de Woody Guthrie mantém-se tanto em termos líricos
como ao nível da composição. Sucede que a tradicional viola acústica a que a
folk music se confinava encontra o ruído das guitarras eléctricas, conjugando-se
para ultrapassar convenções e desbravar o caminho para uma dimensão lírica do
rock até então desconhecida. Já toda a gente sabe do escândalo que foi Bob
Dylan aparecer em palco como uma guitarra eléctrica
a tiracolo, mas poucos se têm interrogado sobre a atitude contestatária
inerente a tal gesto de rebeldia. Em si mesmo, o gesto de Dylan foi uma canção
a derruir as muralhas do preconceito. Acresce que em Bringing It All Back Home
(1965) encontramos alguma da lírica mais alucinada e onírica saída da pena
dylaniana. O ano ficará marcado pela chegada de tropas americanas ao Vietnam,
pelo assassinato de Malcolm X, pela invasão da República Dominicana, por toda
uma série de factos e de acontecimentos que conferiam ao mundo uma imagem
apocalíptica. Canções como On the Road Again, Bob Dylan’s 115th Dream, Mr. Tambourine
Man, reflectem esse estado caótico da sociedade de então, tendo algumas das
imagens surrealistas que as compõem chegado a ser associadas ao consumo de
drogas como se fosse necessário um homem drogar-se para exprimir a vertigem de
um tempo confuso e desarrumado. No zénite deste onirismo, como o velho da
montanha que lá do alto nos observa, surge It’s Alright, Ma (I’m Only
Bleeding). É difícil não falar de génio quando nos deparamos com uma canção
destas. Quem questiona ou duvida das capacidades poéticas de Bob Dylan devia
ser obrigado a ler esta letra em voz alta pelo menos uma vez na vida:
(…)
For them that must obey authority
That they do not respect in any degree
Who despise their jobs, their destinies
Speak jealously of them that are free
Cultivate their flowers to be
Nothing more than something they invest in
While some on principles baptized
To strict party platform ties
Social clubs in drag disguise
Outsiders they can freely criticize
Tell nothing except who to idolize
And then say God bless him
While one who sings with his tongue on fire
Gargles in the rat race choir
Bent out of shape from society’s pliers
Cares not to come up any higher
But rather get you down in the hole
That he’s in
But I mean no harm nor put fault
On anyone that lives in a vault
But it’s alright, Ma, if I can’t please him
(…)
1 comentário:
O discurso do Bob Nobel :) http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/2016/dylan-speech.html?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twitter_tweet
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