Hoje cometi vários erros, o cansaço toldou-me o pensamento. O
cansaço e as perguntas difíceis: «Tem livros sobre começar do zero?» Não sei se
percebi a pergunta, mas sugeri vários. Assim mandam as regras. Não satisfeito, o
requerente insistiu: «Livros para começar do nada, uma vida nova». Também
queria, meu caro. Também queria.
9 comentários:
Imagino o que seria perguntar isso a algumas das pessoas que trabalham na Fnac ou na Bertrand de um dos grandes centros comerciais de Lisboa. Deveriam ficar a olhar para o perguntador com ar indignado, por o perguntador não ser capaz de fazer um pedido em condições, nome do livro ou do autor e, de preferência bem soletrado.
Mas, já agora, não quererá partilhar connosco os livros que sugeriu? É que, de uma forma ou de outra, penso que todos gostaríamos de, um dia, começar uma vida nova.
A primeira coisa que me ocorreu foram dois filmes: "As Confissões de Schmidt" e "The Bucket List". Porque os livros não estavam à mão, recordei-me de um que associo sempre, não sei porquê, ao primeiro dos filmes: "O centenário que fugiu pela janela e desapareceu". E este levou-me a um outro, de que me recordei só por causa do título: "Recomeçar", de María Dueñas. Porque me pareceu que a pessoas em causa nãoe stava interessada em ficção, socorri-me da auto-ajuda: "Novos Pensamentos para uma Nova Vida", "Você Consegue", coisas do género. E por fim, para me expurgar dos males cometidos, um livrinho que pode mesmo ser inspirador: "Livre", de Cheryl Strayed. Ainda assim, cá no meu íntimo, achei o pedido absurdo e sem sentido. Como é que se começa do zero a ler livros? Guias para começar uma nova vida? Enfim, sem querer ser arrogante, acho mesmo que começar a ler, não tendo esse hábito, seria um passo. E deixar de ler, tendo esse hábito, seria outro.
"Deveriam ficar a olhar para o perguntador com ar indignado, por o perguntador não ser capaz de fazer um pedido em condições, nome do livro ou do autor e, de preferência bem soletrado"
Efetivamente ocupar o lugar por trás do balcão não é para qualquer um. É que além de boa vontade e simpatia requer-se também saber, ie, conhecimento do que se vende. O que é raro.
De qualquer forma, é um post delicioso.
É uma lástima a ausência de um guia prático para uma vida nova. Também é capaz de ser uma oportunidade de negócio...
Nunca li um livro de auto-ajuda e tenho uma imbirração antiga com a psicologia. Porém, a avaliar por aqueles artiguinhos que publicam nas revistas de mulheres até me parece que aquilo é coisa para incutir um espírito positivo. Claro que só deve durar uma semana, mas depois sempre podem comprar outro...
Essa é a alma do negócio, Cuca.
o segredo é desejar coisas boas e a seguir mais coisas boas. :)
Só hoje consegui ler a sua resposta e, do que lhe conheço daqui e das suas sugestões a quem o procurou na livraria, fiquei a pensar que fui injusta ao falar da forma como falei dos vendedores da Fnac ou Bertrand dos grandes centros comerciais. Não consigo chamar-lhes livreiros mas a verdade é que nunca me tinha ocorrido como deve ser difícil responder a questões tão abertas como a que referiu.
No outro dia fui a uma pequena livraria e trouxe um livro. A livreira, sem que eu lhe perguntasse nada, falou-me no livro, na escrita, no papel bíblia das folhas, da raridade que eu ali levava. E disse que estava contente que eu levasse aquele livro. Fiquei surpreendida pela forma como ela falava do livro, quase como se lhe custasse desfazer-se dele. E eu pensei que já não havia muitos livreiros assim.
Mas também já não há muitas livrarias assim.
E quem trabalha tem que se adaptar às circunstâncias do lugar onde trabalha.
Não deve ser fácil estar do lado de quem vende livros nos dias de hoje. E quem compra tem que moderar a facilidade com que critica as atitudes ou as respostas de quem vende.
Obrigada pela sua resposta.
E que tal: Walden ou A Vida nos Bosques de Henry David Thoreau?
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