Para Catarina Galego & m. parissy
Ia dizer quando tudo recomeça, mas logo me sobreveio a
terrível constatação de nada ter findado. É num continuum vacilante que a treva
e a luz se vão rendendo, como no monitor prossegue a estabilizada arritmia do
coração.
Certo é que o tempo passa, a pele amarrotada não engana. Mas
passa sem rupturas radicais, apenas desvios, inflexões, nada de descontínuas e
abruptas separações.
Feitas as contas, não passamos de um grão de areia e nosso
todo tempo bem contado é mero instante, fracção de segundo, na história do
mundo.
Que nos caberá fazer senão esperar, ir andando, felicitar
cada novo dia com uma velha noite?
Tivesse eu Deus a quem dar graças, dá-las-ia pela folha
caída, pelas papoilas de vento, pelo animal selvagem à sombra, pelos altos
mares da nossa ínfima imaginação. Não tenho. Por não tê-lo contento-me com
gestos humanos que fazem valer mais que outros certos dias e todas as coisas
que neles perecem, mantendo-se à tona, vivas, nesse continuum vacilante de dia
e noite entrelaçados.
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