A morte de Herberto Helder levantou a questão: quem é,
agora, o maior poeta português vivo?
Desconcerta-me a simplicidade oferecida pelo meu amigo manuel a. domingos a tão intrincadas problemáticas. Custa-me aceitar que Herberto
fosse o maior poeta português vivo à hora da sua morte, embora não tenha
dúvidas de que era poeta. Finado o homem, não sei de todo quem é, quem foi ou
quem deixa de ser o maior. Tenho até dúvidas sobre a existência de poetas
vivos. Mas sobre a mensurabilidade de poetas, vivos ou mortos, recupero este
micróbio inédito:
POETA NOVÍSSIMO
O grande-poeta encontrou-se com o poeta-cimeiro para
discutirem se o mais recente livro do poeta-novíssimo podia ser considerado
livro da maturidade.
Chegando a uma conclusão afirmativa, o poeta-novíssimo
pôde assim ascender à condição de poeta-que-encontrou-a-sua-voz. Foi muito
felicitado e não tardaram os convites para entrevistas e recitais.
Grande espanto causou quando, na primeira entrevista concedida, respondeu com as mãos às perguntas que lhe eram colocadas.
Grande espanto causou quando, na primeira entrevista concedida, respondeu com as mãos às perguntas que lhe eram colocadas.
14 comentários:
:)
gosto do micróbio
Creio que os maiores poetas conseguem ultrapassar os constrangimentos colocados pelos parcos instrumentos da língua corrente para criar uma língua nova, com os mesmos vocábulos, mas toda uma nova pauta de significados.
Sim, poucos o souberam fazer como Herberto, na segunda metade do século XX. Mas confesso que encontro mais poesia naquilo a que muitos chamam prosa do que em obras completas de alguns escritores de versos.
Concordo, Xilre.
O maior poeta português vivo? O interesse de tais campeonatos, em geral, não passa sobretudo pelo objecto da classificação. O que me sucede é que, na maior parte dos casos cíclicos, e considerando a literatura portuguesa em geral, não encontro coincidência entre «o maior» e o melhor, ou o mesmo bom. Não é falta de recepção ou de gosto de conhecer o novo; acontece que uma pessoa lê um parágrafo, dois ou três versos, e não tem paciência para mais… Em mim, muito raramente os celebrados coincidem com o que procuro em termos literários.
Queria dizer: para mim, desde que não sejam rastejantes, já não é mau.
O maior poeta vivo em Portugal sou eu, claro.
Não, desculpa. Sou eu.
Dilacerante é a questão que nos arremessa sem piedade, estimado jovem Autor. Torturante, ouso dizê-lo! E capaz de a qualquer um entontecer sob a vertigem da loucura involuntária… Pois bem: receio, sem desfazer, naturalmente, no que o excelso Autor desta ficha escreveu, que seja necessária uma primeiríssima questão: o que é um poeta vivo?
Receba os mais sinceros protestos da minha estima e admiração.
Att., venerando e obrigado, sou
Júlio Bernardo o Velho
O Herberto era um Helder, deixem-se de mitologias sanitárias. Arranjem uma vida, porra! Para que é que interessa saber quem é o maior poeta português vivo? Quando o gajo morrer logo decidem. Alguém me arranja cinco euros para uma raspadinha?
Catatau Vincennes
Para mim é a aquela rapariga, a Abília Lopes, gosto muito... Muito maluca a rapariga. Quando a leio peido-me.
Marcolina Maria, poetisa e cantora lírica.
Muito me honra constatar ser esta chafarica lugar de passagem de tão ilustres personalidades como Catatau Vincennes e Júlio Bernardo o Velho, desculpando-me desde já Marcolina Maria pela ignorância que nos mantém afastados de qualquer forma de conhecimento. Sinto-me tentado a julgar, admitindo que sob pena de cruel escrutínio, terem hoje as caixas de comentários deste meu vazadouro lírico sido promovidas, pela magnificência dos comentários, às melhores deste país que, para o bem e para o mal, é e será em parte o nosso. Não sei se vivo, não sei se morto. Saudações cordiais,
Se ignorarmos o facto de não se saber muito bem o que é isso de ser poeta e de se estar vivo, a minha aposta é no tipo que até pode ler este blog mas que nunca deixou um único comentário e que tem lá em casa uma gaveta cheia de coisas que merecíamos ler e que a mulher - que nunca gostou desse tipo de idiossincrasias - atirará para o lixo três dias depois de ele morrer.
Por isso, tu, oh melhor poeta português, mais ou menos vivo, se me lês, cria um blogue e avisa-nos.
(Tenho este terror relativamente às Coisas Que Não Sei Que Existem)
Ninguém no Portugal literário, nem mesmo Camões, vivo ou morto, idealizou (a poesia idealiza-se, pensa-se, expressa-se, escreve-se como quem pinta sem olhar, como?) este verso, que calha a ser o melhor já idealizado, e, portanto, pornografia por pornografia, que atribuam o título a um poeta verdadeiro e que tenha coisas para dizer e sentir, fazer sentir.
Eis o verso:
a rã salta sem obedecer de cima.
assim, só. Diogo C. 1 - hmbf 0
Ontem comecei um poema por este verso:
Dissemos: as palavras não são importantes
Daqui podemos avistar um verdadeiro poeta.
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