Este post do Ricardo António Alves não tem sentido algum.
E é precisamente por isso que merece ser alvo de uma crítica "inquisitória", que
é uma maneira de dizer censura sem censurar. Quando alguém crítica
veementemente as afirmações de outrem está a fazer uso de um bem precioso, a
liberdade de expressão sem a qual nenhuma crítica seria possível. Ora, assim como está mal
privar alguém de afirmar o seu pensamento, exercitando a sua liberdade de expressão, também estaria mal privarmo-nos de
criticar esse pensamento discordando dele. Tão grave quanto a censura é a autocensura,
sobretudo em democracia. Esta obriga-nos a um sentido crítico amplo e aberto,
disposto à contradição e à mais feroz das antíteses. Sempre em busca de uma
síntese, creiamos mais ou menos na sua possibilidade. Não podemos é calar-nos
perante a ignomínia e a estupidez. António Gentil Martins foi ignominioso e
estúpido ao produzir as afirmações que produziu sobre homossexualidade e as
chamadas barrigas de aluguer. Por que não dizê-lo? Por ter livrado da morte
milhares de crianças? Por ser um conceituado cirurgião? Isso deverá isentá-lo
da crítica feroz quando proferir ordinarices como as que proferiu ao Expresso?
Não creio, mais ainda por terem as suas afirmações especial relevância numa sociedade conservadora e
tacanha como a nossa. Os pergaminhos católicos do
Doutor Gentil fazem estragos. Não é apenas uma expressão bastante infeliz aquilo que vem incitando
a “nova inquisição”, a qual, reconheça-se, tem apesar de tudo fogueiras mais
confortáveis e anódinas do que as medievais. Daqui a uns dias ninguém se
lembrará desta entrevista, muito menos de quem foi Gentil Martins. Mas por
estes dias não podemos senão declarar o maior repúdio possível para com mais
uma exibição pública de homofobia.
3 comentários:
Meu caro,
aceito a crítica e agradeço o imerecido aquilatar do pano, embora rejeite a implícita nódoa, a não ser, eventualmente mo modo desabrido com que escrevo de supetão. Quanto aos meus preconceitos, assumo-os, pacificamente.
Tudo é criticável, e eu próprio critico AGM. Este tem, contudo, uma qualidade; dá a cara, com preconceitos e tudo. Muitos não o fazem, por medo, comodismo ou, pior ainda, cálculo.
Quanto ao país não se lembrar de quem foi o AGM, diz muito do próprio país.
Um abraço
Pois diz, mas não é do país. É do estado do mundo. Ainda mais uma razão para lhe criticarmos veementemente as afirmações homofóbicas, como ao outro palerma candidato em Loures devemos criticar as atoardas racistas, e assim sucessivamente.
Estou muito mais do lado do Ricardo António Alves. Mas infelizmente este não gosta de comentários anónimos o que é uma grave asneira. Ora eu sou um defensor do direito à asneira. Critico a asneira mas não condeno (salvo em caso muito, muito excepcionais). Mas não acredito que F. Assis Pacheco se auto-censuraria. Mas estaria de facto frito se hoje utilizasse termos como fufa e paneleirice. Acho que ele teria coragem para enfrentar as condenações dos politicamente correctos. É asneira o que acabo de escrever? Se alguém , em vez de me criticar, preferir condenar-me que se lixe.
J. M. Santos
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