“Crimes Exemplares”, Max Aub, Antígona (1995)
“Matei-o porque possuía uma pistola”, uma pistola na mão
como a d’ “O estrangeiro” de Camus que os The Cure reciclam em “Killing an
arab”, canção de fundilho cru minimalista do tempo das guitarras hertzianas
tais as confissões recolhidas por Max Aub em “Crimes Exemplares”, livro que
hoje faria as delícias de qualquer colecção de micro-ficção mas foi publicado
por editora aficcionada por modos de dizer o crime, em exemplos “Matar não é
crime”, de Edward Sexby ou “Agência de Assassínios”, de Jack London. Mas vale a
pena seguir o absurdo na canção do árabe que morre na praia - não há culpa,
pode estar calor, todos os caminhos vão dar à mesma porta, pode não estar
calor:
“I'm standing on the beach
With a gun in my hand
Staring at the sea
Staring at the sand
(...)
I can turn
And walk away
Or I can fire the gun
Staring at the sky
Staring at the sun
Whichever I choose
It amounts to the same
Absolutely nothing
(...)”
Frases voluntariosamente comunicativas como “Dizem que sou tarado” ou “Ela
cheirava a alho” sempre fizeram o meu género-leitor. E a verdade é que só posso
sentir uma grande empatia espiritual com autores de projectos como “Matar,
matar sem dó nem piedade, para avançar sempre, para abrir caminho e afastar o
tédio.”
Há sempre uma razão para matar, eu mesmo (não se deve dizer “eu próprio” nos
dias de sol) gostaria que os leitores exalassem um último suspiro sobre estas
linhas, para assim me constritar mais depressa de não fazer nenhum esforço para
vos merecer.
Impossibilitado pelo chilreio das avezinhas e o labor das senhoras que soltam
as demoras, não devo mais que usar os seus cabelos à volta do pescoço da musa,
com força exacta até que a língua se lhe protraia da boca, sem que silve ou a
salve.
O resto, como eu ia dizendo, fica para os outros. Mortos.
Rui Costa (aqui)
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