segunda-feira, 11 de setembro de 2017

ACERCA DA VERDADE

Num livro esquecido dos anos 60, Jorge Semprún conta uma história que tinha lido ou ouvido de Ievtuchenko sobre Pasternak. “Certo dia” - escreve Semprún - “um operário pediu a Pasternak que lhe apontasse o caminho da verdade. O escritor respondeu: ‘Que ideia a tua! Nunca tive a intenção de apontar a alguém fosse o que fosse. O poeta é como as folhas duma árvore que sussurram com o vento, mas não tem o poder de encaminhar ninguém.’” Semprún comenta então: “Todos conhecemos este hábito dos poetas se confundirem com o reino vegetal: comparam-se a árvores, folhas, algas.”



Claro que Pasternak, talvez por humildade, talvez por orgulho, não disse ao operário tudo o que pensava. É óbvio que o poeta não pode apontar o caminho da “verdade” porque ninguém sabe exactamente o que é “a verdade” e, portanto, ainda menos o caminho para lá chegar. Mas a poesia, e isso sabemo-lo todos, encerra uma espécie de verdade própria, essencial, subterrânea, capaz de revelar territórios desconhecidos no avesso do mundo.

Rui Manuel Amaral, no Bicho Ruim.

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