Num livro esquecido dos anos 60, Jorge Semprún conta uma
história que tinha lido ou ouvido de Ievtuchenko sobre Pasternak. “Certo dia” -
escreve Semprún - “um operário pediu a Pasternak que lhe apontasse o caminho da
verdade. O escritor respondeu: ‘Que ideia a tua! Nunca tive a intenção de
apontar a alguém fosse o que fosse. O poeta é como as folhas duma árvore que
sussurram com o vento, mas não tem o poder de encaminhar ninguém.’” Semprún
comenta então: “Todos conhecemos este hábito dos poetas se confundirem com o
reino vegetal: comparam-se a árvores, folhas, algas.”
Claro que Pasternak, talvez por humildade, talvez por
orgulho, não disse ao operário tudo o que pensava. É óbvio que o poeta não pode
apontar o caminho da “verdade” porque ninguém sabe exactamente o que é “a
verdade” e, portanto, ainda menos o caminho para lá chegar. Mas a poesia, e
isso sabemo-lo todos, encerra uma espécie de verdade própria, essencial,
subterrânea, capaz de revelar territórios desconhecidos no avesso do mundo.
Rui Manuel Amaral, no Bicho Ruim.
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