O ideal seria passar ao lado, mas não é possível. O debate
sobre Loures moderado por Judite Sousa elevou o fenómeno a um ponto que não
pode nem deve ser ignorado. André Ventura, candidato do PSD à Câmara de Loures,
insistiu nos preconceitos e nos estereótipos com um discurso racista altamente
pernicioso. Judite Sousa ofereceu-lhe o privilégio de iniciar o debate, contra
o que é usual, dado Ventura não ser o actual Presidente de Câmara, creditando-lhe o
protagonismo que vai capitalizando à conta de uma comunicação social ávida de
casos e de populistas como Ventura para conquistar audiências. Sabemos o que
leva à promoção destes tipos, temos dúvidas sobre o que leva a que gente
decente contemporize o problema e de algum modo olhe para o lado como se nada
se passasse.
Esta estrela da CMTV, chamado a debater um pouco de tudo
desde a bola à política internacional, pegou no elo mais fraco para dar nas
vistas em Loures. O elo mais fraco é a etnia cigana, que segundo Ventura vive
exclusivamente de subsídios. Os que vendem produtos contrafeitos nas feiras,
mas que, desconfio, não são proprietários das fábricas desses produtos, já
estão um passo à frente da sua miserável condição natural. Fossem à escola,
poderiam chegar aos calcanhares de Duarte Lima, Isaltino Morais, José Oliveira
e Costa, Ricardo Salgado, entre tantos outros membros altamente integrados e promovidos e premiados na sociedade do Senhor Ventura.
Sobre a pena de morte, este candidato defendido com unhas
e dentes por Pedro Passos Coelho diz, com a maior das leviandades, que não a
defende, mas não o choca que um terrorista seja executado. Eu também não tenho
nada contra os Ventura, mas se pudesse recambiava-os todos para os acampamentos
do Daesh. O mas é uma conjunção danada, traiçoeira do pior que pode haver. O
discurso de Ventura surge sempre contaminado por inúmeros mas, desconfio que
por defeito de personalidade. Já a defesa feita do seu discurso por Passos
Coelho não deixa no ar mas algum, é típica de uma retórica básica que tende a
colocar nos outros os defeitos próprios.
Não podemos ter medo dos demagogos e dos populistas que
permitem que situações injustas perdurem, disse o líder do PSD. Quem mais senão
Ventura pode ser acusado de demagogia e de populismo em toda esta história? Ainda
ontem, numa breve passagem pela CMTV, lá o vi à mesa com o pobre Francisco
Moita Flores. Esmifrava-se o desgraçado por tentar meter alguma coerência e
razoabilidade na excitação de Ventura. Missão impossível. Gente como o Sr. Ventura
não se rege pela razoabilidade do raciocínio. Para estes tipos tudo vale, desde
que no final entretenham a plateia e levem para casa as palmas do público.
Seria fácil desmontar as tácticas e os discursos de
Ventura, mas ainda ninguém se aventurou em tão nobre missão. Coloquem-lhe questões de
resposta objectiva, peçam-lhe soluções para os problemas que o próprio coloca. Perguntem-lhe,
por exemplo, se há casos de pedofilia na Igreja. Perguntem-lhe se os casos de
pedofilia detectados na igreja são muitos ou são poucos. Perguntem-lhe se são
os bastantes para que possamos afirmar dos padres católicos uma inclinação para a pedofilia. O problema das generalizações e dos estereótipos é
precisamente este, tomamos o todo pela parte, criminalizamos o grupo pelas
práticas de alguns dos seus membros. Não reconhecer a injustiça e o perigo de
tão básica e capciosa argumentação é mostrar-se incapaz de perceber o que quer
que seja.
Ventura não quer perceber nada. É um incendiário, é um tipo que chama a si as atenções falando mais alto do que os outros. A ênfase que coloca em cada afirmação que faz é típica dos homens inseguros e pouco inteligentes. À sabedoria convém uma serenidade que escapa de todo a estes indivíduos. Sempre tivemos disto na política. O problema é que em tempos havia nestes indivíduos alguns filtros entre o que pensavam e o que afirmavam. Num tempo como o nosso, cada vez mais cativo do exibicionismo público do privado, cada vez menos filtrado pela razão, cada vez mais motivado pela ambição de popularidade, os filtros desaparecem. E entre o que se pensa e o que se diz deixa de haver qualquer pausa, qualquer hiato, qualquer filtro, qualquer ponderação. Chegamos a ter saudades de uma certa dose de “politicamente correcto”, tal a palhaçada a que chegámos.
Ventura não quer perceber nada. É um incendiário, é um tipo que chama a si as atenções falando mais alto do que os outros. A ênfase que coloca em cada afirmação que faz é típica dos homens inseguros e pouco inteligentes. À sabedoria convém uma serenidade que escapa de todo a estes indivíduos. Sempre tivemos disto na política. O problema é que em tempos havia nestes indivíduos alguns filtros entre o que pensavam e o que afirmavam. Num tempo como o nosso, cada vez mais cativo do exibicionismo público do privado, cada vez menos filtrado pela razão, cada vez mais motivado pela ambição de popularidade, os filtros desaparecem. E entre o que se pensa e o que se diz deixa de haver qualquer pausa, qualquer hiato, qualquer filtro, qualquer ponderação. Chegamos a ter saudades de uma certa dose de “politicamente correcto”, tal a palhaçada a que chegámos.
2 comentários:
Meti para trás para perceber o alarido à volta do tipo de quem não conhecia a existência apesar da assumida notoriedade. Foi interessante. Para os eleitores de loures até pode ter sido esclarecedor mas eu fiquei preso ao momento em que o candidato do CDS apresenta a lei de integração de minorias étnicas aprovada pelo passos coelho... Não consegui sair dali.
Tudo vale.
Enviar um comentário