domingo, 15 de outubro de 2017

A ENTREVISTA


— Como é que o senhor ganha a sua vida?

— Ó francamente… Isso é pergunta que se faça a um morto?

4 comentários:

rff disse...

Basicamemte foi isso, algo semelhante a um homicídio em directo. Houve momentos em que parecia o canal Panda dos putos... Mas é assunto sério. Nunca votei em sócrates. Assim nem sequer terei direito a uma singela indemnização pelo embuste. Aquele pragmatismo provinciano urbanamente deslumbrado nunca me conseguiu na realidade seduzir. Apesar disso, reconheço que o seu primeiro governo, politicamente falando, ainda foi dos melhorzinhos que a democracia portuguesa já conheceu. Muito à custa daquela sua ambição desmedida preparou-se como ninguém para o cargo, politicamente falando claro, e se bem me lembro dominava os dossiers com exactidão. Quando "nomeou" armando vara para a CGD (esse não engana mesmo ninguém e não tem o mesmo talento para a vigarice e para as meias-verdades) já a coisa cheirava e muito a esturro do pior... E o mais curioso e o mais irónico é que caso esta acusação não tivesse vindo a lume, sócrates seria provavelmente presidencial e com probabilidades de estragar a caminhada vitoriosa a marcelo.

Agora é engraçado reparar no tratamento diferenciado ao nível da investigação jornalística e até na máquina da justiça que o maior vigarista de todos os séculos em portugal - ricardo espirito santo - tem beneficiado ao longo dos tempos. Basicamente, trata-se do tipo que realmente mandava mesmo nisto tudo: um mentiroso compulsivo com requintes de Chefe de Máfia que continua a viver de forma luxuosa passando entre os pingos da chuva. Nem metade dos ainda mais graves crimes cometidos por ele foram investigados e tornados públicos. Tenho essa convicção. Desconfio que isso se deve ao facto de ser um Vigarista com educação, não demonstrar qualquer arrogância, e tratar com elevada consideração os senhores jornalistas...

No substancial, e independentemente do epilogo jurídico, sócrates já está justamente condenado. E se por um lado devemos ficar satisfeitos porque se desmascarou um pilantra do pior deixando explícito que a justiça está finalmente a chegar aos mais poderosos, por outro lado todo este caso terá algum impacto na sociedade portuguesa porque as pessoas não o vão esquecer facilmente. E atendendo ao perfil e costumes do personagem sócrates, entristece-me pensar que tudo isto servirá como mais um veículo para o país voltar a um conservadorismo encapotado que tendia a desaparecer baseado em algumas premissas que eram pedras basilares do Estado Novo, se pensarmos bem. Ao mesmo tempo receio que à boleia destes acontecimentos sejam criadas condições para o ressurgimento e reforço de movimentos com discursos intolerantes em prejuízo das gerações futuras...

hmbf disse...

«Nunca votei em sócrates.»

Eu também não, nem tive contas no BES. :-)

rff disse...

Agora é novo banco e mudar isso é uma carga de trabalhos... Mas também não me lembraria de fechar a conta na CGD pela mais que suspeita ascensão do Vara à administração...

Carlos Ramos disse...

Era bom que a justiça não se fizesse na redação do correio da manhã

era bom que o ministério publico cumprisse a lei

era bom que não se prendessem cidadão para investigar e depois os libertassem, dizendo que afinal foi uma pequena precipitação, um enganozinho de somenos

era bom que o sr juíz titular do processo, chamado Juiz das garantias, não da acusação mas da defesa, não viesse para a comunicação social fazerem a apologia bacoca de um elevadíssimo grau de moralidade e de isenção e depois a realidade fosse ela mesmo o seu contrário.

Era bom que o juiz administrasse a justiça de acordo com a lei

era bom que os prazos não fossem, para um dos lados, prazos de faz de conta


era bom que se encontrassem os autores das sucessivas e constantes fugas de informação durante todo o tempo em que o processo esteve em segredo de justiça

era bom que quem guarda o segredo fosse responsabilizado por deliberadamente não o fazer.

era bom que houvesse serenidade

era bom que se provasse a acusação de maneira inequívoca e não em meros e aparentes suponhamos, indícios, coisas mais ou menos estranhas

era bom que a justiça não recorresse a ditados populares para sustentar as suas decisões

porque mais que o caso Sócrates, o que aqui está em causa é o coração do estado de direito, se é que, como há muito noto, está mortalmente ferido e a caminho de uma lenta e agonizante destruição que é a da própria democracia constitucional

era bom que não tivesse ponta de razão e tudo fosse aquilo que não é.